Por Jorge Paços /
A monitorizaçom permanente das e dos assalariados é umha das grandes apostas do novo capitalismo, segundo se desprende das provas piloto já desenvolvidas nos Estados Unidos sobre controlo laboral e tecnologizaçom. A velha figura do capataz pode desaparecer, substituída por chips minúsculos que esculcarám até o detalhe mais íntimo do pessoal das empresas.
Segundo informou recentemente o jornal “The Guardian”, a empresa estadounidense Three Square Market lançou um programa de prova para testar a disponhibilidade das e dos trabalhadores a se submeterem à permanente vigiláncia tecnológica. Todd Westby, promotor da iniciativa, superou com muito as suas expectativas iniciais, ao comprovar que quatro quintas partes da plantilha abraçava com decisom o projecto. Longe do receio, a ideia acordou o entusiasmo. Para Wetsby, “quando se trata de millenials, a acolhida é grande. Para eles é fixe”.
Da filantropia ao controlo.
Como é habitual no desenvolvimento tecnológico, as aplicaçons começam com um uso pretensamente humanitário. Os chips que Three Square Market instalará nos dedos dos seus trabalhadores fórom desenhados ao início para vigilarem pessoas idosas com demência ; se se extraviarem da sua morada, a polícia conseguiria a sua localizaçom, e teria acesso a todo o seu historial médico.
Doravante, a porta está aberta para os chips estabelecerem a localizaçom permanente das e dos trabalhadores, que aliás levam no dedo um registo com todo o seu historial laboral.
Aboliçom da intimidade.
O velho sonho totalitário da leitura dos sentimentos e emoçons nom está tam longe. Idea-se, por exemplo, na China do capitalismo selvagem, onde algumhas empresas ideam capacetes e chapéus com sensores que poderiam escanear as ondas cerebrais das trabalhadoras. O patrom ou capataz, através dum programa informático, saberia se o seu assalariado se acha estressado, zangado ou canso. Mais umha vez, a ciência ao serviço do poder desenha os seus engenhos com alegadas boas intençons ; pois na teoria tais capacetes servem para detectar a fatiga em ofícios que acarrejam umha enorme responsabilidade (caso de pilotos aéreos ou maquinistas de comboio) ; na prática, nada assegura que nom poidam ser dirigidos para avaliar cada um dos estados anímicos dum trabalhador ordinário.
Amazon: trabalhar até o limite
Neste novo esquema de controlo total do processo produtivo nom podia faltar Amazon, emblema do novo capitalismo, do consumo sem limites e da pretensa aboliçom dos limites do tempo.
Desde inícios deste ano, transcendeu que Amazon desenhou um bracelete que monitoriza todos os movimentos das trabalhadoras no interior dos armazéns; a precisom do engenho é tal que pode registar o movimento das maos do trabalhador, alertando-no no caso deste se enganar de caixa.
O grande irmao nos gabinetes
E desde que a terciarizaçom da economia no centro capitalista aumenta a cantidade de populaçom assalariada a desempenhar-se em gabinetes, o capital avança também no controlo absoluto da principal ferramenta de trabalho: o computador. Todo um sector tecnológico oferece já produtos que tomam capturas de ecrá regulares de cada um dos empregados ; som aplicaçons semelhantes às que controlam as pulsaçons das teclas, ou as que tiram fotografias da trabalhadora através do próprio computador. Tais mecanismos de controlo podem aplicar-se aliás às trabalhadoras que realizam a sua tarefa na morada.
Hierarquia de trabalhadores.
Longe da supervisom dos antigos capatazes, submetida à margem de erro de toda actividade humana, e tingida da subjectividade que sempre está presente no juízo dumha pessoa através de outra, a avaliaçom tecnológica das trabalhadoras vai conduzir a balanços literalmente inumanos plasmados em algoritmos: as ferramentas de controlo tecnológico limitarám-se a avaliar o número de tecleios por minuto, o ritmo dos movimentos do assalariado polo armazém, ou a rapidez e diligência na atençom das conversas (no caso dos tele-operadores). Deste ponto de vista, as aplicaçons conformam automaticamente umha hierarquia de trabalhadores que devirá em maior integraçom na empresa, no caso dos mais dóceis, e na sua exclusom, no caso dos mais inadaptados.
E da mesma maneira que acontece com as tecnologias da repressom, que por falta de mediaçom humana semelham mais doadas de aceitar, a avaliaçom maquinal da obreira fará parecer mais justo e irrebatível o seu despedimento ou degradaçom.
O processo de conversom das pessoas em apêndices de grandes estruturas empresariais e tecnológicas vai para a frente, por enquanto sem significativa oposiçom. Numha sociedade que, em termos gerais, deixou de considerar a liberdade de consciência e a intimidade como valores a defender, os capitalistas e os seus mecanismos passam a vigilar a prática totalidade da existência. Mesmo a possibilidade distópica da empresa conhecer o nosso ADN está perto de consumar-se. Assim dim os responsáveis de Three Square Market : “é possível imaginarmos chefes do futuro pedindo dados como esses”.
*Informaçom tirada de The Guardian.