Por Emma (traduçom do galizalivre) /

A adessom maciça ao movimento feminista mostrada nas últimas manifestaçons, assim como a sua aposta decidida para enfrentar o patriarcado na rua, tem surpreendido a próprios e estranhos, mas esta vaga de rebeldia nom se pode interpretar apenas como a resposta espontânea à violência machista exercida contra as mulheres e o aparato que sustêm o sistema de poder, mas como o resultado dum processo histórico de organizaçom e luita feminista artilhado nas margens do estabelecido e ocultado polas diferentes narrativas históricas, também aquelas que se autoproclamam revolucionárias. Do galizalivre queremos contribuir ao debate resgatando umha entrevista dos anos 80 publicada na revista feminista EMMA a militantes das Rote Zora (Zora Vermelha), organizaçom que nasce nos convulsos anos 70 da república federal alemá, formada exclusivamente por mulheres que empregavam a acçom direta como método de luita feminista.

Quem sodes?

Zora 1: Somos mulheres de entre 20 e 51 anos. Algumhas trabalham, outras roubam o que necessitam, outras ainda desfrutam da “rede de seguridade social”. Algumhas tenhem crianças, outras nom as tenhem. Algumhas som lesbianas, outras amam rapazes. Fazemos as compras nestes supermercados nojentos, vivemos em casas feias; com muita vontade damos passeios ou vamos ao cinema, ao teatro, à discoteca, fazemos festas. Naturalmente vivemos na contradiçom de que muitas cousas que desejamos realizar nom funcionam bem pola espontaneidade. Mas quando umha acçom sai bem, alegramo-nos muitíssimo.

Porque tendes este nome, ROTE ZORA?

Zora 2: “Rote Zora e a sua banda” é o título dum livro. É umha rapariga que rouba os ricos e dá os pobres. Até hoje em dia, parece um privilégio de homens formarem bandas que atuam fora do marco da lei. Mas precisamente por estes mil obstáculos privados e políticos que nos estrangulam como mulheres, devemos convertermo-nos em bandidas, em luitadoras pola nossa liberdade e dignidade de seres humanos. Embora conquistemos algum direito através dumha dura luita, embora luitemos diariamente na defesa destes direitos, embora tenhamos que conquistá-los diariamente de novo, as leis, o direito e a ordem estám sempre na nossa contra. A luita radical feminista e a fidelidade a lei é algo incompatível na prática.

É casualidade que vosso nome tenha as mesmas siglas que Células Revolucionárias?

Zora 1: Nom, Rote Zora mantém os princípios de Células Revolucionárias; quer dizer, a mesma concepçom de formar estruturas ilegais, de formar umha estrutura incontrolável polo aparelho estatal. Só deste modo podemos –em relaçom com as luitas legais dos distintos movimentos populares- realizar acçons diretas e subversivas. “Nós, as mulheres, repelemos ataques” foi a palavra de ordem do maio do 68. Hoje em dia, no que diz a respeito da violência individual contra as mulheres, ninguém hesita na legitimidade de defendermo-nos. Mas como resposta coletiva ao poder, ao sistema que produze permanentemente esta violência, a resposta ativa das mulheres é quase um tabu.

Que tipos de acçons tendes realizado e com que motivos?

Zora 2: As “mulheres das Células Revolucionárias” começárom no 1974 cumha bomba no tribunal da constituiçom, reclamando a anulaçom da lei do aborto. Na “noite de Walpurgis” de 1977 figemos explodir umha bomba na câmara de médicos, porque dali tentárom aniquilar esta mini-reforma com todos os métodos possíveis. Seguiu o atentado contra a empresa Schering no percurso do julgamento sobre Dyonyon. E muitos atentados contra lojas de pornografia. Na realidade cada dia deviam-se queimar umha destas lojas. Quer dizer, para nós é umha absoluta necessidade tirar do seu “entorno privado” a exploraçom da mulher como objeto sexual, como produtora de crianças e demostrar nossa raiva com lume.

Zora 1: Mas nom nos limitamos às estruturas de repressom direta e evidente contra a mulher. Como mulheres somos afetadas em todas as circustáncias violentas da sociedade, seja a destruiçom urbanística, do meio ambiente, seja a produçom, a organizaçom capitalista. Quer dizer, sofremos das circustáncias das quais sofrem os homens. Nom queremos nenhuma “divisom do trabalho” de tipo “esquerda” segundo o lema: as mulheres responsáveis para as questons feministas, os homens responsáveis para as questons políticas em geral. Nom permitimos que se nos tire a responsabilidade de mudar nossa vida. É por isto que atacamos o carro do Senhor Kaussen, aquele especulador de vivendas que era responsável dumha série de despejos brutais. É por isto que falsificamos os bilhetes para o transporte público na zona do Ruhr (após o incremento dos preços) junto com as células revolucionárias, contribuindo deste modo para a tarifa gratuita.

Zora2: As nossas últimas sabotagens estavam dirigidos contra a companhia Siemens e contra a companhia de computadores Nixdorf. Estas companhias tentam abrir novos campos através do desenvolvimento das novas tecnologias de poder, pola produçom armamentista e as medidas de contrainsurgência, cada passo mais sofisticadas, mas subtis. Aliás estas empresas tenhem um papel de vanguarda na restruturaçom do processo de trabalho no mundo inteiro, na que a mulher é sempre a primeira vítima. Aqui querem explorar melhor as mulheres através do trabalho de jornada partida, do trabalho realizado na casa, isoladas e sem seguridade (para isto servem as novas tecnologias destas companhias). No “terceiro mundo”, às mulheres esfolam-nas na produçom destes aparelhos electrónicos. Aos 25 anos estám destroçadas.

Esta relaçom com o terceiro mundo, com a exploraçom das mulheres ali, que importância tem para as Rote Zora?

Zora 1: Em todas as acçons nossas exprimimos esta relaçom, também o figemos no atentado contra os traficantes de mulheres e contra a embaixada filipina em Bonn, em 1973. Nós nom luitamos para as mulheres do “terceiro mundo”, quer dizer nom luitamos no seu lugar, luitamos juntas, por exemplo contra a exploraçom da mulher como mercadoria. Este tráfico moderno de escravas tem o seu equivalente cá nas relaçons matrimoniais, nas estruturas de propriedade matrimonial. As formas de opressom som diferentes mas tenhem as mesmas raízes. Nom vamos transigir com as tentativas deles para luitarmos umhas contra as outras. A divisom entre homens e mulheres, a nível internacional tem seu equivalente na divisom entre os povos do primeiro e do terceiro mundo. Nós próprias, tiramos proveito da divisom do trabalho internacional. É por isto que queremos rachar nossa conexom com o sistema e procuramos o que de comum temos com mulheres doutros países.

Exprimistes a vossa prática, mas nom percebo o motivo de organizar-vos em relaçom com as Células Revolucionárias.

Zora 2: O motivo fundamental é que fôrom as Células quem desenvolvêrom esta linha política, e nós consideramo-la correta. Mas nós, no nosso próprio desenvolvimento atopamos conteúdos políticos próprios, é por isto que nos organizamos de forma autónoma, mas empregando a experiência das células. Aliás, cada colaboraçom dos grupos radicais pode contribuir a reforçar a resistência militante em geral. Claro que sempre hai discussons que queimam, já que os homes, que para a sua ruptura radical com o sistema adotárom umha prática consequente, frequentemente estám muito longe de perceber o que significa a luita anti-sexista e qual é a importância que tem para a perspetiva social-revolucionária. Entre as mulheres também nom está claro onde estám os limites que reforçam a colaboraçom ou paralisam a luita das mulheres. Mas achamos que nossa identidade feminista une-nos com algumas mulheres das Células Revolucionárias.

Isto significa que vos vedes como feministas?

Zora 1: Si. Naturalmente, o privado é político. Por isto, é a nossa opiniom, todas as circunstâncias sociais económicas, políticas, que no fundo estruturam e estabilizam o “privado”, som a base da nossa luita. Este é o muro que queremos rachar. Mas seria reduzido falar como se a repressom das mulheres na RFA fosse o único ponto da nossa linha política e fóssemos cegas a outras circunstâncias de poder e violência, como a exploraçom de classe, o racismo, a aniquilaçom de povos inteiros polo imperialismo. Um ponto de vista tam reduzido nom toca o fundo da miséria: que a represom contra a mulher e a divisom do trabalho por sexos som a base e a precondiçom para o poder em todas as suas formas: contra outras raças, contra minorias, contra idosos e doentes, mas sobretodo, contra os rebeldes e os nom domesticáveis.

Zora 2: As dificuldades começam para nós quando as exigências feministas som empregadas para solicitar “igualdade” e reconhecimento dentro do sistema. Nom queremos que as mulheres ocupem funçons de homes e rechaçamos aquelas mulheres que tentam fazer carreira dentro das estruturas patriarcais, camuflando-se na luita feminista. Estas carreiras seguem a ser um ato individual do qual só podem tirar proveito algumas mulheres privilegiadas. Já que as mulheres só lhes concederám participar na administraçom ou na planificaçom do poder quando elas mantenham interesse masculinos, ou quando na sua tarefa estejam excluídos os interessas das mulheres.

Nos anos setenta, o movimento feminista tinha muita força: Foi conseguindo cousas pola via legal. Por exemplo: a luita contra a lei do aborto, a denúncia pública contra a violência contra as mulheres na sua família e o seu matrimónio, a denúncia da violaçom como ato de poder, a criaçom de contra-estruturas autónomas. Porque insistis entom na necessidade da luita armada?

Zora1: Si, o movimento feminista conseguiu muito e acho que o mais importante que se conseguiu foi concienciar amplamente sobre a represom da mulher. E que muitas mulheres nom interpretem a represom sofrida como ato individual, ou incluso se auto-disculpem pola sua miséria, aliás muitas organizarom-se e vírom que apenas terám capacidade quando luitem juntas. O que a luita feminista conseguiu –as livrarias feministas, os centros feministas, as revistas, os congressos e a universidade de verao para mulheres- todo isto entre tanto é parte da realidade política e parte integral para o desenvolvimento da nossa luita.

Zora 2: Mas alguns éxitos podem interpretar-se como a expressom dumha situaçom social concreta, quer dizer, situaçons nas quais era possível conceder espaços livres às mulheres. Quando necessitárom mais mulheres nas oficinas e na produçom, abrírom mais infantários para as crianças. Isto nom tem contribuído para umha mudança fundamental da situaçom da mulher. Para isto é necessário um movimento contínuo cujos objetivos nom sejam integráveis, cuja parte (de menos compromisso) nom permitam integrar-se nas estruturas legais, cuja raiva e ansia se mostrem nas luitas extra-parlamentárias e sob formas anti-institucionais.

Zora1: A via legal nom é suficiente, já que a legalidade está constituída polas estruturas de repressom e poder. Se o marido viola e golpeia a sua mulher, isto é legal. Se um traficante compra nossas irmás do terceiro mundo e vende-as a um burguês alemám, isto é legal. Se as mulheres tenhem que fazer os trabalhos mais monótonos por um salário mínimo e arruínam a sua saúde, isto é legal. Todo isto som estruturas de poder que nom estamos dispostas a continuar sofrendo, que nom podemos eliminar só através da denúncia. É um passo importante conscienciar amplamente sobre a dimensom da violência contra as mulheres, mas este passo nom consegue impedi-lo. É um fenómeno certo que, ante as injustiças incríveis contra as mulheres , atopamos umha ignoráncia tremenda. Na toleráncia encontramo-nos com o aproveitamento masculino. Sabemos que este estado de normalidade vai unido à falta de resistência militante. Esta opressom fai-se possível pola ausência de resistência. Por isto sabotamos, boicotamos, danamos, vingamo-nos pola violência sofrida e pola situaçom de humilhaçom, através dos ataques contra os responsáveis.

Como valorades o movimento feminista atual?

Zora2: É falso falar do movimento feminista. Por um lado entende-se por “movimento feminista” o que resulta das estruturas anteriores, ou o que resta delas, desde os projetos, os encontros públicos, até a mística. Hai muitas tendências que nom se complementam para tirar proveito, senom que se excluem mutuamente. Por outra banda, hai novos pulos políticos que partem doutras luitas nas quais as mulheres tomam consciência da sua opressom, nas quais questionam radicalmente as estruturas patriarcais, e nas quais “fam política polo interesse das mulheres”. Por exemplo, as mulheres na luita polas vivendas, nos grupos anti-imperialistas. Por isto achamos corretas as palavras de ordem: o movimento feminista morreu. Viva o movimento feminista! Já que o movimento feminista nom é parcial, como a luita antinuclear ou a luita polas vivendas, que perdem a sua necessidade no momento em que nom se sigam construindo centrais nucleares ou quando nom disponham de objetos de especulaçom. O movimento feminista parte da totalidade das estruturas patriarcais, da sua tecnologia, da sua organizaçom da produçom, da sua relaçom com a natureza. E por isto que o movimento feminista é um fenómeno que nom desaparecerá quando desapareçam alguns elementos do sistema, senom só num longo processo da revoluçom social.

Zora 1: O movimento feminista nunca analisou corretamente o seu fracasso na luita contra a lei do aborto, e na financiaçom dalguns projetos, como por exemplo, as casas para mulheres maltratadas. É preciso um comportamento de rechaço perante a política estatal. Aliás, a tendência ampla da “nova maternidade” por parte do movimento feminista antecipou a mudança, que se tem realizado na política estatal no que diz a respeito da família. Sempre se excluiu a questom de classe, as diferenças sociais entre mulheres negou-se com a argumentaçom da igualdade na exploraçom sexual. Isto complica, na crise atual, a formulaçom de respostas à degradaçom nas condiçons de trabalho, à exploraçom reforçada e à política reacionária do estado com as famílias. A ausência dumha perspetiva clara para a atuaçom, para poder responder adequadamente ao ataque da crise, conduze ao dilema de, ou atuar ofensivamente contra a política reacionária, ou simplesmente salvaguardar o desenvolvimento de subjetividade em espaços livres feministas. Esta contradiçom nom a podemos solucionar teoricamente, e a consequência prática –por exemplo, formar conselhos feministas- nom é nengumha soluçom, nom fai avançar o processo. Por própria experiência sabemos que nom podemos conseguir poder indo por estes caminhos que existem, exatamente, para excluir às mulheres, para proteger e assegurar o poder patriarcal. Por isto, a nós parece-nos um caminho falso criar um conselho feminino que tenha por objetivo ter influência nos partidos e instituiçons.

Zora 2: Existem já novos pontos na discussom e análise entre mulheres, que tenhem por tema o futuro desenvolvimento social, estám-se analisando as novas consequências da exploraçom a través das novas tecnologias; as novas formas de trabalho e salário, as suas consequências para as mulheres; as estruturas indiretas de violência. Muitas mulheres vem cada vez mais claramente -e por isto o rechaçam- a guerra quotidiana contra as mulheres: a pornografia dura, a publicidade que viola a dignidade da mulher, a exigência social para ter “mais maternidade”, para viver mais ao “estilo feminino”. Assim, olham cada vez mais claramente que a crise e as novas estratégias capitalistas tenhem por precondiçom umha política familiar e umha política da mulher mais reacionária. Com a política de (planificaçom da populaçom), e nesta política incluímos as mudanças na lei do aborto, tratam de conseguir umha influência qualitativa no desenvolvimento da populaçom. Um dos objetivos -junto com a tecnologia genética, financiada polo Estado- é ampliar a “saudável classe meia alemá”, umha seleçom que hai que impedir. Hoje em dia, mais do que nunca necessitamos um movimento feminista radical que tenha a força de rachar e impedir concretamente o ataque social e sociopolítico, nom apenas das mulheres, também doutros grupos de populaçom como som as minorias estrangeiras, necessitamos um movimento feminista de libertaçom que nom permita que a esperança da revoluçom se converta num simples sonho bonito.

Entom, fazedes parte da guerrilha, ou fazedes parte do movimento feminista, ou dos dous ao mesmo tempo? Como vedes a relaçom entre as duas partes?

Zora1: Somos parte do movimento feminista, luitamos pola libertaçom da mulher. Aparte do que nos une teoricamente, hai outra relaçom entre nossa prática e o movimento feminista legal, que é a radicalizaçom subjetiva que poda animar outras mulheres a defender-se. É umha radicalizaçom que contribui para que as mulheres se tomem em sério a elas próprias e a sua luita. Contribui para a sensaçom de ter força, ao ver que és capaz de realizar algo ao que antes tinhas medo, ao ver que tem resultados, que se move algo. Claro está que nós queremos transmitir também esta sensaçom. Achamos que para isto nom fai falta atuar necessariamente com medidas polas que temos optado nós. Por exemplo, a acçom das mulheres de Berlim no Peep-Shoow, que o interrompérom, acçons deste tipo animam-nos, dam-nos força, e esperamos que outras mulheres tenham estas impressons também com as acçons de Rote Zora. Nosso sonho é que em todos os lugares se organicem pequenas bandas; que em cada cidade, o violador, o traficante de mulheres, o editor sexista, o negociante com pornografia, o ginecologista repugnante tenham medo ante o seu desmascaramento ante um ataque, ante a denúncia pública etc.

Com as vossas acçons podedes pôr em perigo a vida de pessoas que nom tenhem nada a ver com o assunto. Como podedes justificar esta responsabilidade?

Zora 2: porque supôs que quem atua com explosivos nom respeita o que considerades normal o movimento feminista ou a esquerda? Todo ao contrário! Precisamente, a possibilidade de pôr em perigo a vida da gente que nom tem nada a ver com isto, obriga-nos a umha responsabilidade especial. Seria paradoxal luitar contra um sistema para o qual a vida só tem o valor da sua exploraçom, e ao mesmo tempo adotar o mesmo cinismo, a mesma brutalidade que encontramos no sistema. Temos paralisado muitos plans de acçom pola única razom de nom podermos excluir o perigo para gente que nom tem nada a ver com isto.

Que dicides ao argumento: as acçons armadas prejudicam ao movimento, contribuem para um controlo cada vez mais amplo do movimento feminista, quanto mais controlo, mais difamaçom como terroristas, e portanto, mais isolamento e separaçom com a maioria das mulheres?

Zora 1: “Danar o movimento”. Com isto referes-te à repressom que praticam imediatamente depois dumha acçom, dum movimento? Muito ao contrário! As acçons devem e podem apoiar diretamente o movimento. Por exemplo, nossos ataques contra os traficantes de mulheres contribuem para que se fagam públicos os seus negócios, para que se sintam ameaçados, para que percebam que tenhem que contar com a resistência das mulheres quando continuem a fazer negócios. E se os senhores sabem que tenhem que contar com a nossa resistência, entom isto reforça o nosso movimento.

Zora2: A estratégia de contrainsurgência sempre tem sido separar, por todos os médios, os sectores radicais para isolá-los, e assim debilitar o movimento inteiro. Nos setenta vivemos a experiência de até onde se pode chegar, se o movimento de esquerda fai sua a propaganda do Estado, se começam por fazer responsável da persecuçom estatal, a aniquilaçom e a represom aqueles que luitam sem compromissos. Nom confundem apenas a causa e a consequência, explicitamente justificam o terror do Estado. Com isto debilitam sua própria posiçom. Limitam eles próprios o marco da sua protesta e a sua resistência.

Zora1: Nossa experiência é: para continuar sendo incontroláveis e para proteger-nos dos ataques do Estado é necessária umha organizaçom concreta. Nom podemos permitir-nos que se repitam em todos os grupos os mesmos erros. Hai que ter estruturas nas que se poda intercambiar experiências e conhecimentos, que sirvam ao movimento.

As mulheres nom organizadas de modo radical/autónomo, como podem entender o que fazedes, dado o efeito intimidatório que tenhem as acçons armadas?

Zora 2: Porque nom tenhem um efeito intimidatório o traficar com mulheres, e sim queimar o carro do traficante? No fundo, pensar assi é aceitar que a violência exercida pola sociedade é legítima, enquanto que umha resistência adequada intimida! É possível que intimide, que assuste a muitas que questionemos o que parece natural; também que muitas mulheres se assustem quando de meninas fomos educadas num comportamento passivo, de vítima, e agora nos confrontamos com o facto de existir mulheres que nom se comportam como vítimas nem pacifistas. Isto é um facto, obriga a posicionar-nos. As mulheres que com raiva sofrem da sua incapacidade individual, identificam-se com as nossa acçons. Do mesmo modo que um ato violento contra umha única mulher cria um clima de ameaça contra todas, as nossa acçons –embora estejam dirigidas contra uns responsáveis- contribuem para criar um clima de consciência: a resistência é possível.