Por Iago Santás /

#porquemepeta será umha outra forma de celebrar as nossas letras. #porquemepeta nasce coma un grupo de gente que quer pôr em valor, rendir homenagem e visibilizar essas crianças que num contexto de linguicídio seguem a empregar o galego na sua vida. porque o merecen.
Falamos com o Miguel Garcia um dos membros do asuntinho.

O por que fica claro…mas  que é, quem sodes, como nasce #porquemepeta?
Somos um grupo de mais, pais, e pessoas comprometidas com o idioma que pensamos que esta seria umha boa forma de celebrar o Dia das Letras. For directa ou indirectamente, temos contacto com o mundo das crianças e somos conscientes do “processo de desertizaçom” que, em termos lingüísticos e identitários, estám a sofrer as geraçons mais novas de galegas e galegos. Mas conhecemos também essas nenas e nenos a quem vai orientado o #porquemepeta: crianças que, na maior das dificuldades, mantenhem o idioma galego, e com ele a umha esperança de futuro para a Galiza. E sentimo-nos profundamente obrigadas e obrigados a reconhecer e homenagear a sua atitude.

Para quem nom tiver tan claro o por quê…podedes explicar um bocado que é #porquemepeta.

#porquemepeta é umha iniciativa para celebrar o Dia das Letras com umha homenagem popular às nenas e nenos galegofalantes. Umha homenagem em forma de festa, que sirva realmente para agradecer e reforçar a sua atitude, para discriminar positivamente aquelas crianças cujo idioma é o galego e fazer do jardim do Possio, ainda que seja só por um dia, um parque galegofalante. Mas também é um acto reivindicativo: umha chamada de atençom ao conjunto da sociedade para dizer (ainda que for “em positivo”) que o nosso idioma está em perigo de extinçom, e que mui mal tenhem que estar as cousas para que nos sintamos na necessidade de tratar como heroínas às crianças de um país que falam o seu próprio idioma.

Escolhedes o lazer como centro de interesse para desenvolver umha actividade com o galego como eixo. É fundamental, já que o princípio lúdico para introduzir calquer aspecto devesse ser dogma nas crianças. Vedes factível compensar este défice dentro do associacionismo noutros aspectos mais formais: deporte federado, lazer regrado, visitas didácticas…?
Sim, claro, qualquer iniciativa tendente a criar espaços de socializaçom para as crianças em galego, aponta cara o caminho certo. Nós fazemos umha festa num parque porque apenas se trata de umha actividade de um dia, de umha forma de celebrar o Dia das Letras. Mas som muito mais necessárias iniciativas estáveis no tempo, que ofereçam às crianças a possibilidade nom só de jogar, mas de aprender, praticar desporto, ler, ver cinema… em galego.
Falando dos aspectos máis regrados devêssemos mencionar a escola. Hoje os movimentos pro-língua trabalham em tentar paliar a situaçom bem dando a batalha no ensino público, bem abrindo espaços onde a imersom seja a propaganda polo feito (Semente). No plano teórico mais supra, quase estamos fronte a dous modelos: um modelo de imersom onde a língua minorizada (independentemente da norma o galego na Galiza é minorizado) posto em andamento na Catalunya, e um modelo de itinerários, opçom de EH onde son as famílias onde, a partir duns mínimos, escolhem a língua veicular (no 2011/2012 o modelo D integramente en Euskera era escolhido polo 73 por cento da populaçom escolar). Qual achades que seria o ponto de partida para a recuperaçom do galego neste plano?
Pessoalmente, acho que o Ensino é -junto aos meios de comunicaçom e o lazer- o principal agente de reproduçom de Espanha na nossa sociedade. Joga no processo de espanholizaçom um papel estratégico semelhante ao que noutros tempos desenvolviam a Igreja ou a Guarda Civil. É por isso que a construçom de escolas galegas, ou à insubmissom ao ensino espanhol através da nom-escolarizaçom, som apostas tam interessantes como necessárias.

Quanto a como construir essa Escola Galega, depois da experiência do bipartito com as galescolas, parece claro que nom podemos sustentar algo tam estratégico como a salvaçom do idioma em algo tam difícil, efêmero e precário como as medidas que pode impulsionar um governo autonómico. Por outras palavras: o ensino galego e em galego nom pode depender dumha Junta da Galiza que governam os que querem acabar com o idioma, e que se um dia governam outros, ninguém garante que o vaiam fazer por mais de 4 anos. Por isso, as escolas Semente som umha iniciativa fantástica, que deveria ser apoiada económica e humanamente polo conjunto do nacionalismo sociológico deste país. Hai já bem anos que sabemos que as bases sobre as que se formulava a defesa do idioma nos anos 70 e 80 mudárom de vez: o galego nom é já um idioma popular, maioritário, discriminado institucionalmente; é, pola contra, um idioma socialmente minoritário (nos ámbitos urban os e entre as geraçons mais novas praticamente exótico), em perigo severo de extinçom. As estratégias que temos que promover para reverter esta situaçom som as próprias desta realidade, e a imersom lingüística e a coessom e identificaçom mútua das crianças galegofalantes parece umha necessidade evidente. Nom podemos dizê-lo sem dor, mas a realidade é que devemos agir como imigrantes no nosso próprio país.

Gostaria de mencionar um ponto que me parece chave: em relaçom com o ensino, por vezes se tem insistido muito na questom de em que idioma falam os mestres, em que língua se ministra tal ou qual matéria. Isto tem a sua importáncia, mas cumpre nom esquecer que o nosso idioma sobreviveu durante 40 anos nos que o professorado falava unicamente castelhano, e mesmo se reprimia com a régua àquelas crianças que falavam galego na aula. E isto como foi possível? Pois porque a língua veicular das nenas e os nenos era o galego, e no pátio, e na casa, e ao sair da escola, e o tempo de lazer…eram integramente no nosso idioma. Quero dizer com isto que o que fai com que as crianças galegas substituam o seu idioma quando entram na escola nom depende tanto do idioma no que se ministrem as aulas, mas da língua que falem as outras crianças. Isto deve de ser levado mui em conta ao desenhar estratégias de sobrevivência para o galego.
Mmmm, pode ser desviar o debate e nom vou reenviar réplica. Son da opiniom (como pai e mestre) de que o impacto da escola está sobredimensionado, para o bom e para o mau. O ano ten perto de 8000 horas e as crianças pasan 800 na escola… se umha família consciente nom dá compensado a falta de espírito crítico que hai na escola temos um problema… um problema  moito mais duro que o que pode ter professorado consciente para mudar nese tempo  actitudes retrógadas que se poden dar dentro das famílias.
A pregunta ía diri
gida ao que comentas ao final, onde nom podo estar máis dacordo…masquais podem ser essas estratégias e, sobretodo, as vias de procurar impacto na comunidade.
Para mim, a estratégia certa passa por compactar e fortalecer a comunidade nacional galega, entendendo esta nom como o conjunto nem a maioria das e dos galegos, mas como aqueles que teimamos em preservar a identidade nacional galega. É importante que as nossas crianças joguem, aprendam e se reforcem juntas. Como fam as comunidades de imigrantes? Como faziamos nós, galegas e galegos, na emigraçom? Pois criavamos centros galegos, bairros galegos, tentávamos estar juntos, agíamos como comunidade. É triste ter que reconhecê-lo, mas talvez devéssemos de começar a funcionar como imigrantes no nosso próprio país.

Independentemente do plano formal, canles de tv, jornais, relaçom de parque-quadrilha entre as crianças, desporto…achais é possível artelhar um tope de chao e que a situaçom mude?
Suponho que é extremadamente difícil que o número de falantes dumha língua chegue a zero: sempre haverá um núcleo mais ou menos pequeno de falantes que se mantenham no idioma do país, contra vento e maré. Mas para que esse mínimo seja um nível de suporte, no que poda assentar umha rectificaçom da tendência, é imprescindível que esteja coesionado e reforçado internamente, e apoiado e reconhecido socialmente. Se reparamos, também aqui, nas muitas semelhanças que há entre a extinçom/conservaçom dumha língua e a dumha espécie natural, repararemos em que para que umha espécie animal nom desapareça nom se podem deixar os últimos indivíduos isolados os uns dos outros e num ambiente hostil: e necessário juntá-los e favorecer e proteger o seu hábitat, o que só é possivel desde umha implicaçom activa e um compromisso claro da sociedade.
Podedes contar algo do que haverá nesse dia? Estám as crianças a participar na organizaçom ou será umha sorpressa?

Nesse dia, por umha parte, queremos converter os Jardins do Possio num grande espaço de jogo em galego, para o que haverá brinquedos e espaços de jogo livre. Ademais, haverá atuaçons de clown, música, contos, um obradoiro de graffiti e um espectáculo de mágia. Também haverá um “acto central” de agradecimento e homenagem às nenas e nenos galegofalantes, com algumha surpresa. E, ao próprio tempo, queremos que a festa recorde a umha romaria popular, com foliada, comida, dança…

Reconhecer e fazer umha homenagem ás crianças galego falantes…até que ponto umha criança de menos de 6 anos galego falante é responsable dunha escolha totalmente condicionada polo ambiente?

Umha criança pequena é responsável de mui pouquinhas cousas, e entre elas nom está a língua na que fala. Mas a essa idade aprende a valorar as cousas, as atitudes e as posiçons vendo e sentindo como as valora o entorno. E, por suposto, percebe e sabe interpretar o agradecimento e o orgulho das pessoas às que quere e que a querem.

Para estas e estes cativos o #porquemepeta quer ser um espelho no que elas próprias, como crianças galegofalantes, se reflictam queridas, apoiadas e agradecidas por falarem galego, e podam construir sobre essa imagem um auto-conceito positivo. Quer contrarrestar os muitos casos nos que -por desgraça- se tenhem sentido julgadas, criticadas, excluidas ou abertamente despreçadas por falar galego.

O formato persoeira relevante reforzando a língua,  está a funcionar? Topades colaboraçom?
Se te referes aos vídeos de agradecimento que acompanham a iniciativa da festa, a verdade é que a nossa intençom primeira nom era que fosse algo feito só nem principalmente por pessoas famosas, mas que fosse um agradecimento colectivo da sociedade galega às crianças. Na nossa web, onde se explica a iniciativa, falavamos de que era fixe aparecerem pessoas a agir com referentes para umha criança pequena, mas isso nom tem tanto a ver com “quem é” quanto com “que é” ou “como aparece”. Vamos, que a um cativo lhe vai impresionar e motivar mais que lhe agradeça o facto de falar galego um bombeiro subido ao seu camiom vermelho do que um académico da RAG.

Porém, o facto é que para que umha iniciativa assim adquira difussom nas redes é muito importante o papel referencial que jogam essas pessoas relevantes, e desse ponto de vista nom podemos menos que agradecer-lho aos músicos ou atrizes que enviárom os seus vídeos. Mas, insistimos, a iniciativa nom é dirigida apenas a este tipo de pessoas: animamos-vos a todas e todos a que gravedes um vídeo agradecendo-lhe às crianças galegofalantes o facto de manterem vivo o idioma, e o subades às vossas redes sociais baixo o hashtag #porquemepeta.

Está nas vossas cabeças que a festa tenha continuidade?
Sim, pensamos que o #porquemepeta poderia converter-se numha forma mais de celebrar o Dia das Letras, e mesmo ser umha festa itinerante, que vaia homenageando as crianças galegofalantes por diferentes cidades, ano trás ano. Quando passe o 17 será o momento de ver como se concretiza isto para o ano próximo.

O outro dia um amigo de Ferrolterra preguntou-me se estava “metido” no #porquemepeta. Queria saber como botar unha mao … é posvel? cumpre ajuda?
Ai, ajuda cumpre sempre. Pessoas que sejam da comarca de Ourense, podem pôr-se em contacto directamente com nós para ajudar na preparaçom desse dia, que queremos que seja umha grande romaria com jogos, atuaçons e comida no Jardim do Posio. Podem ligar com nós através dos endereços de contacto que saem na página web.

Também nos cumpre ajuda económica, e para isso abrimos um crowdfunding para receber doaçons. O endereço é https://www.okpal.com/porquemepeta