Por Jorge Paços /

“Sem violência todo se pode discutir”, dizia o mantra da oficialidade política espanhola nos tempos mais duros da luita armada. A frase, que servia para governantes, tertulianos, e até dirigentes da esquerda reformista, era mais umha das muitas mentiras espanholas. Nos dias em que ETA anuncia a sua dissoluçom, o governo e o conjunto dos aparelhos do regime negam-se a qualquer quadro de discussom igualitária sobre o direito a decidir e o fim das políticas de excepçom. Umha violência desaparece da cena, enquanto todas as outras (policial, carcerária, estrutural) seguem a pleno rendimento.

Espanha volve mostrar a sua triste singularidade. Se outros processos de fim da luita armada na Europa levárom a umha certa relaxaçom de tom nas elites políticas -com o caso irlandês como exemplo paradigmático- a retirada de ETA foi aproveitada pola dirigência espanhola para fazer exibiçom de imobilismo. Mariano Rajoy considerou  “propaganda” o fim da organizaçom, e manifestou que “faga o que fixer” os seus militantes continuarám a pagar (no caso dos que estám encarcerados), ou a ser perseguidos (no caso dos que estám no exílio).

O discurso de Rajoy nom puido ter lugar em foro mais adequado : um quartel da guarda civil em Logronho, no coraçom dumha instituiçom historicamente significada pola vulneraçom dos direitos humanos e a perseguiçom dentro e fora da lei do independentismo. Dando por bom o paradoxo dumha “política antiterrorista sem terrorismo”, o presidente espanhol demonstrou que as leis de excepçom seguem vigorantes : da lei de partidos à lei antiterrorista, com todas as suas derivaçons penitenciárias. Na mesma linha se exprimiu Juan Ignacio Zoido, ministro de interior.

Vários partidos, umha só mentira.

O conjunto dos partidos do regime unificárom as suas vozes em comunicados praticamente fotocopiados, insistentes na escrita do relato monolítico sobre a história do Estado espanhol : umha história onde nom existem opressons estruturais de naçom e de classe, exercidas com coacçom e violência, senom organizaçons fanatizadas nascidas para eliminar fisicamente o inimigo político.

Especialmente satisfeito se amossou Pérez Rubalcaba, o que fora ministro de interior na última etapa de luita armada basca, e que recebera com bágoas de júbilo o anúncio de ETA do seu cessar fogo definitivo em 2011.

Por seu turno, Pedro Sánchez e Albert Rivera comparecêrom com teses coincidentes, sem assinalarem nem timidamente nenhuma responsabilidade do Estado no conflito basco, e oferecendo a jornada “às vítimas”. Rivera advertiu que nom se deve contemplar nenhum “benefício” ante a justiça ; isto é, que os e as presas políticas devem continuar baixo umha política de excepçom que os diferencia do tratamento penitenciário dos e das presas sociais.

O lobby do rencor.

Ainda há umha peça chave para explicar a negativa a qualquer conciliaçom, por simbólica que for, entre os bandos enfrentados nas últimas décadas : o peso do lobbismo da extrema direita, agrupado por volta de associaçons de vítimas e intelectuais servis, atento a qualquer aberturismo espanhol. Apoiados no discurso da dor, das feridas irreparáveis e de toda ausência de lógica política, vários colectivos espanholistas trabalham a prol do discurso mais sesgado e sensacionalista.

Vozeiros da AVT afirmárom estar à espreita ante um hipotético achegamento de presos, e Fernando Savater pronunciou-se contra o “reacomodamento civil” que segundo ele protagonizaria a extinta organizaçom armada.

Vingança.

Aconteça o que acontecer com a política penitenciária, o Estado espanhol mantém incólume umha legislaçom e engrenagem repressiva pronta a agir contra qualquer dissidência real, ainda que esta seja civil e nom violenta ; assim o provam os recentes feitos na Catalunha, e também a perseguiçom contra o arredismo na Galiza, que ainda mantém um sumário aberto na Audiência Nacional. As actividades públicas de Causa Galiza e Ceivar fôrom perseguidas e judicializadas nas chamadas « Operaçons Jaro ».

Maquinária, por outra banda, alheia a qualquer noçom de perdom e pragmatismo, e dominada por essa lógica de vingança que marcou a história do Estado espanhol durante toda a idade contemporánea.