Por Cristina López Villar (adaptaçom ortográfica do galizalivre) /

O exercício praticado por mulheres entre 1850 e 1936 adota diferentes matizes. Desde as primeiras práticas físicas protagonizadas por mulheres humildes até as das mulheres dos grupos elitistas, observa-se como é curioso que o tipo de prática física podia ser exatamente a mesma, por exemplo remar, mas a categoria da prática varia em funçom da classe social à que se pertencer e se é practicado por homens ou por mulheres. A história do desporto gerou discursos elitistas e machistas que permitem que o desporto seja umha construçom androcêntrica que se perpetua no tempo.

Apesar deste facto, a prática de exercício físico polas galegas terá umha repercussom fundamental para a construçom de umha nova identidade feminina, que irá paralela à conquista de direitos e à construçom de um novo modelo de sociedade. Nesta construçom jogará um papel importante a imprensa, pois desde os seus discursos e desde o imaginário visual que constrói, permitiu mostrar um novo modelo de mulher: “a desportista”.

A assistência de nenas a sociedades ginásticas ou às aulas de Educaçom Física ou ginástica nas escolas foi um passo importante para conseguir novos espaços hegemonicamente masculinos. A visom de tipo higienista a prol de um novo modelo de mulher queda refletida nos congressos e concursos pedagógicos. A reivindicaçom foi necessária e dura, já que havia que luitar contra aquelas pessoas que consideravam que o único lugar das mulheres era o lar e que uns dos seus principais atrativos era a debilidade física. Esta luita aparece nas obras de grandes escritoras como Emília Pardo Bazam ou Concepción Areal e também nos de mestras como Maria Barbeito Cervinho que inclusive chegou a propor um método de ginásia rítmica e foi defensora da coeducaçom física. Tanto homens como mulheres tenhem um papel fundamental na reivindicaçom dos seus direitos relacionados com a prática física.

Apesar de que os discursos sobre a prática desportiva apropriada para as mulheres rejeitava a competiçom, elas conseguem introduzir-se nela e competir desde diferentes desportos. Este novo jeito de participaçom abriu novas possibilidades, tais como viajar em grupo ou participar em competiçons desportivas femininas, que claramente constituiram umha nova forma de socializaçom.

A mudança de espetadoras a praticantes passa por umha evoluçom na que nalguns casos som elas próprias as que chegam a organizar clubes que lhes permitam praticar e realizar eventos desportivos; noutros som pessoas vinculadas à difusom do desporto. O associacionismo, em todo caso, abre novos espaços para as mulheres, que participam tanto no ámbito federativo como nas diretivas dos clubes. Essa evoluçom também se produziu na natureza das próprias práticas, que passam de ser mais flexíveis a regulamentar-se, ou de ser altamente elitistas a se democratizarem devagar.

Assim, ao falarmos das pioneiras nom quixemos descartar o circo, espaço para o espetáculo onde as mulheres criavam outro imaginário paralelo ao das desportistas. As primeiras que jogaram ao futebol, do mesmo modo que as artistas de circo, constituíam um acontecimento surpreendente e inquietante, apesar das diferenças existentes, dado que para as artistas de circo este era a sua profissom. Seja como for, cabe pensar que o olhar cara umhas e outras nom distaria possivelmente demasiado ao verem-se como fenómenos estranhos, onde o corpo das mulheres transgride o rol que a sociedade lhe tinha atribuído de mae e esposa, começando, deste modo, a abrir novas possibilidades ao sentir do que é ou deve ser umha mulher. Porém, a maioria dos avances que se estavam a dar na conquista de direitos polas mulheres, tais como a criaçom de clubes ou as novas formas de socializaçom e de relaçom com os seus corpos, verám-se truncados com o alçamento militar de 1936.

Aguardamos que este livro sirva para resgatar do esquecimento aquelas mulheres que contribuíram a escrever a história do desporto galego e que as novas geraçons possam tomar consciência da sua valia.

*Épílogo do livro: “Pioneiras do deporte en Galicia”. Deputaçom da Corunha.