Os Sokols, grupos dedicados à ginástica e à exercitaçom do corpo, forom fundados polo nacionalista checo Miroslav Tyrs no ano 1862. Estes grupos ginásticos, que teriam um enorme sucesso na naçom checa, tinham um marcado caráter político e forom o exemplo necessário para que já no século XX abrolhassem em diferentes latitudes de Europa grupos ginásticos semelhantes. Os Sokols, amparando-se em umha ideologia democrática através da qual se exalta a justiça social e o patriotismo, inspirarám na península Ibérica o grupo Palestra em Catalunha ou os Mendigotxales em Euskal Herria. No caso do nacionalismo galego, é na década de 1930 quando nasce o grupo juvenil Ultreya.

Álvaro de las Casas
A história do grupo Ultreya está intimamente ligada à figura de Álvaro de las Casas, quem nasceu em Ourense em 1901. Começou os estudos na sua vila natal, mas posteriormente trasladou-se a Valhadolid para estudar Filosofia e Letras e finalmente remataria doutorando-se em Madrid em Geografia e História. Foi umha personagem que inicialmente tinha umha prática política monárquica e mesmo se poderia dizer que espanholista, chegando a ter importantes vínculos com a Casa Real durante os anos 20.

O contexto político que se vive nos últimos anos da década de 1920, com a decadência da ditadura de Primo de Rivera, faz intuir que se achegam câmbios políticos de relevo polo que é um ambiente propicio para que muitos monárquicos se convertam em republicanos. No caso de Álvaro de las Casas, renuncia ao título nobiliário concedido por Alfonso XIII e converte-se ao galeguismo. Esta conversom, coincidindo com o auge do nacionalismo galego, foi propiciada polas suas boas relaçons pessoais com importante ativistas ourensans das Irmandades da Fala que fariam de ponte para o seu ingresso no Seminário de Estudos Galegos. O seu interesse sobre a cultura e a história galega será desde aquele momento canalizado através do Seminário.

Em 1930, consegue umha praza de docente no instituto de ensino médio de Noia e traslada-se a esta vila corunhesa. É aqui, em Noia, onde intenta criar umhas mocidades galeguistas que progressivamente tomassem consciência do feito galego e para formar finalmente em 1932 a organizaçom juvenil Ultreya.

A organizaçom juvenil Ultreya

Apenas uns meses depois da criaçom do Partido Galeguista, em Fevereiro de 1932, nascem as primeiras agrupaçons de Ultreya, compostos por alunos de secundaria do próprio Álvaro de las Casas, e também de outros membros do Partido Galeguista, como por exemplo, de José Nunhez Bua, em Vila Garcia. Ultreya pronto contará também com importantes grupos em Ourense, Vigo, Ponte Vedra ou Compostela.

O grupo Ultreya constitui-se de forma oficial o dia 10 de Fevereiro de 1932. Dizem-se inicialmente estar longe da militância política, e pretendem manterem-se à margem de patrioteirías pueriles e de malsanas parodias castrenses, e terám como objetivo principal o conhecimento pleno de Galiza por parte da mocidade galega, assim como o treinamento físico do corpo com roteiros e exercícios ginásticos na linha das organizaçons anteriormente mencionadas, Sokols ou Palestra.

Apenas cinco dias depois da sua creaçom, o 15 de Fevereiro, aparece publicado na Revista Nós o seu decálogo formado por dez puntos:

  • Porque amo a Galiza con toda a miña ialma, adicareille os meus millores esforzos pra tornala eternamente feliz.
  • Porque a vida está encheita de mágoas, miña mocidade será unha leda canzón que ha erguer o esprito de tódolos coitados.
  • Porque estou afincado ao chan nativo e endexamais hei crebar as ligazóns coa miña xente, manterei sempre aceso o fogo do meu lar.
  • Porque penso no que fun, no que son e no que teño de ser, respetarei aos vellos e pequenos e defendereinos de todo aldraxe e sofrimento.
  • Porque quero a eficacia da miña laboura, axudarei os nobres desexos dos meus compañeiros como quixera que me axudasen a min na arela dos meus limpos ensoños.
  • Porque teño de sere home útil á miña Terra, cumprirei tódalas miñas obrigas pra ire facendo a miña histórea de cidadán eisemprar.
  • Porque quero limpar a miña axuda de erros, educarei meu esprito no estudo e no traballo.
  • Porque teño de sere rexo na axuda aos meus irmáns, fortalecerei meu corpo na craridade das augas e no ar das montañas.
  • Porque soño nun porvir de verdadeira fraternidade, farei por que rente de min se xunten tódolos rapaces galegos pra que o día de mañán non nos afosten prexuízos de caste.
  • Porque quero unha Galiza enteiramente galega en convivio con tódalas razas, en fala con tódalas culturas, abrirei meu peito a tódolos homes de boa voluntade e reita intenzón.

A estrutura interna de Ultreya era a seguinte: cada doze moços formam umha duzia, grupo gerido por um guieiro, sendo o guieiro um destes doze moços, mas de idade e formaçom superior aos demais. Na prática, os moços tenhem entre 12 e 18 anos, enquanto o guieiro tem arredor dos 20 anos. Cada 12 dúzias formaria-se umha linha, dirigida por um maior. Na cima da organizaçom esta o Conselho Diretor. Neste Conselho destacam as figuras de Secretário Geral, que ocupa Francisco Fernández del Riego, e de Regente, assumindo este cargo o próprio Álvaro de las Casas.

A organizaçom conta com um hino escrito por Filgueira Valverde e Claudio Losada e também contam com um emblema, um trisquel vermelho, emblema que lembra à insígnia do nacional-socialismo alemã. Este distintivo molestou especialmente no Partido Galeguista que qualifica de “disparatada” a sua escolha, tendo em conta que na altura o Partido Galeguista era atacado desde a esquerda espanhola polo seu discurso nacionalista.

Neste ponto compre mencionar que inicialmente o Partido Galeguista nom se dota de umhas mocidades galeguistas, e apenas uns meses depois da creaçom dos grupos Ultreya, o Partido Galeguista tenta um achegamento para que estas se convertam nas suas mocidades. Álvaro de las Casas oporá-se fortemente e a partir deste enfrontamento ambas organizaçons tomam distanciamento, provocando que Álvaro de las Casas deixe de formar parte da direçom do Partido Galeguista.

As jeiras

Entre o 20 e o 27 de Março de 1932 produze-se a primeira das três jeiras que organizará Ultreya. Trata-se da Missom Biológica de Galiza, umhas jornadas de convivo na granja de Salcedo. Estas jornadas estavam programadas para “eiscursiós, deportes e ximnasia pra endurecer noso corpo; queremos ser sanos, fortes, rexos, pra redimirnos de doenzas c alifafes; pra que o día, de manan os nosos fillos medren ergueitos como os nosos piñeiros, duros como os nosos carballos, fermosos como vales, como os nosos antergos, aqueles que se morrían de vellos sin saber de boticas”. Como pode apreciar-se, igual que no decálogo da organizaçom antes citado, trata-se dum discurso essencialista mais próprio do regionalismo.

A segunda jeira, a que mais relevância mediática suscitou, foi umha singradura de duas semanas, do 1 ao 14 de Julho de 1932, polas Rias Baixas no pailebote Joaquim Perez, atracando em varias localidades marinheiras. Esta viagem foi noticiada por numerosos jornais da época, como por exemplo em El Pueblo Gallego. A expediçom era recebida com entusiasmo em todos os portos nos que atracava, onde se organizariam diferentes atos. Esta segunda jeira estava formada por 4 linhas, as de Noia, Vila Garcia, Vigo e Ourense e na que também participavam vários integrantes do Conselho.

A terceira jeira, iniciada o 25 abril de 1933 por diversos ultreias de Noia consistia num roteiro pola serra do Barbança. O propósito era fazer um roteiro ligado à realidade arqueológica galega e conhecer assim a pré-história do País. Logo desta expediçom, os grupos Ultreya diminuirám notavelmente a sua atividade e apenas realizaram algumhas conferencias.

A organizaçom estava neste momento abocada ao fracasso devido ao seu afastamento da órbita do Partido Galeguista e à formaçom dos diferentes grupos locais das Mocedades Galeguistas que finalmente desembocarám na constituçom em 1934 da Federaçom de Mocedades Galeguistas. Ultreya foi na prática umha escola de formaçom de militantes, de onde os moços ultreia mais comprometidos com o galeguismo passariam a militar nas Mocedades Galeguistas.