Por Jorge Paços /

A primavera une duas comemoraçons de peso para a memória galeguista ; o recordo de dous feitos fundacionais empequenecidos nos livros de texto oficiais e marginalizados na mídia empresarial. Há mais de 170 anos que a afirmaçom política galega tomava corpo orgánico e discurso de seu, sendo esmagada polas armas. Entre Conjo e Carral a história contemporánea da Galiza tomava um vieiro irreversível, o vieiro que ainda caminhamos.

No passado 2 de março cumprírom-se 162 anos desde a celebraçom dum jantar de irmandade com grande cárrega política ; foi em Conjo, na actualidade bairro de Compostela. O concelho da cidade, apoiado no tecido associativo e no mundo cultural, decidiu-se a resgatar o evento do esquecimento. E com a sua reivindicaçom, lembrar três dos seus protagonistas. Naquela velada fraterna partihárom mesa artesaos, obreiros e estudantes ; entre eles topavam-se Aurélio Aguirre, Manuel Murguia e Eduardo Pondal. Aguirre foi um poeta romántico simpatizante da causa progressista, finado com 25 anos na praia de Sam Amaro, apenas dous anos depois do banquete ; Murguia e Pondal, por entom anónimos intelectuais, iam ser dous grandes vultos do nosso Rexurdimento : o primeiro como fundador da história científica vindicadora do feito galego ; o segundo, como o poeta de épica estoica, celtista, orientada para a libertaçom nacional.

O feito de se juntarem num convívio trabalhadores manuais e estudantes desafiava as rígidas hierarquias classistas da época ; no acto estavam representados um patrom e dous trabalhadores de cada ofício da cidade, e os estudantes serviam as raçons. Isto, somado ao conteúdo subversivo dos brindes, motivou presença militar no evento, e posterior denúncia e a condena ao exílio de Aguirre e Pondal ; a puniçom nom se chegou a aplicar por mediaçom do procurador, favorável aos acusados.

Estes som alguns dos feitos que a vizinhança de Compostela puido conhecer neste fim de semana através de actividades diversas. A celebraçom, de jorne cultural, tivo a sua dimensom política : recorda-se um capítulo de perseguiçom da liberdade de expressom, justamente numha etapa na que se recrudescem as multas e penas de prisom contra artistas e tuiteiros.

Como prolegómeno à celebraçom dum jantar na carvalheira de Conjo (recentemente recuperada) houvo roteiros, mesas redondas sobre este acontecimento histórico, recitais poéticos e concertos. Precisamente, nestes anos fôrom cubertas lacunas da nossa história com a publicaçom da obra colectiva Os últimos carballos do banquete de Conxo, co-editado por Alvarellos e o concelho de Compostela.

O banquete celebrou-se no meio dia do domingo, culminando numha romaria popular. O concelho pretende que esta cita se consolide no calendário cultural e reivindicativo compostelano.

A revoluçom galega como antecedente.

Com estas palavras, « revoluçom galega », fôrom qualificados pola imprensa da época os feitos insurreccionais que aconteceram na nossa terra em 1846, e sem os quais nom se pode entender o pouso rebelde do Banquete de Conjo, e as querências galeguistas de vários dos seus promotores. Murguia acordara à causa galega sendo neno, escuitando os tiroteios entre rebeldes e governamentais no casco velho de Santiago.

Na primavera de aquele 1846 (há justo 172 anos) os gromos galeguistas compostelanos, organizados por volta de vários cabeçalhos de imprensa e um activo grupo de estudantes rebeldes, confluem com militares progressistas para protagonizar umha revolta sem precedentes, muito diferente das habituais « assonadas » dos oficiais díscolos. Baixo o liderato de Antolim Faraldo, o mais inquieto da mocidade galega conheceu as causas nacionais da Polónia ou a Irlanda, estudou o socialismo utópico, vindicou a Galiza sueva e negou-se à desapariçom do Antigo Reino, partido nas quatro províncias artificiais que ainda hoje nos desartelham.

Em 2 de Abril, e baixo o mando ditatorial do general Narváez (que governava de facto pola minoria de idade de Isabel II), o coronel Miguel Solís proclama o alçamento em Lugo ; a seguir constitui-se a Junta Superior do Reino da Galiza, que declara em suspenso todas as medidas do poder de Madrid, e denuncia que o nosso país fora tratado até entom  « como umha verdadeira colónia da corte ». Na declaraçom de 1846 está a pluma de Faraldo e Pio Rodrigues Terraço, galeguistas na cabeça do pronunciamento.

Madrid aposta em reprimir a ferro e lume a insurrecçom, e será o general de La Concha (futuro repressor do arredismo cubano) o que extermine as tropas de Solis em várias escaramuças. O coronel Solis entregou-se trás a derrota em Cacheiras e a posterior negociaçom em Sam Martinho Pinário, pretendendo evitar mais derramamento de sangue quando a tentativa fracassara. Ele e mais onze oficiais vam ser fusilados. Aconteceu em Paleo, Carral, entre a Corunha e Compostela. O poder evitou a celebraçom do juízo e a consumaçom das execuçons em ambas as cidades, por medo a se prender de novo a mecha da revolta. Da mesma maneira, o governo espanhol ocupou-se de forçar o exílio de Faraldo e os seus ; o primeiro núcleo organizado de galeguistas, activos e também teóricos, ficava assim esfarelado.

Memória e futuro.

Da mesma maneira que o arredismo de hoje mima a nossa memória colectiva, também os nossos devanceiros se preocupavam com enxalçar aqueles feitos que vam unindo, como um fio irrompível, cada capítulo da nossa causa. Graças à Liga Galega da Corunha, a vila de Carral loze um enorme cruzeiro, desenhado por Álvarez Mendoza em 1904, com a legenda « Aos mártires da liberdade mortos a 26 de Abril de 1846. Liga Galega na Corunha ». Ao pé deste monumento, em 1931, pronunciou um discurso senlheiro Lugris Freire, o galeguista que fijo de ponte entre os precursores decimonónicos e as Irmandades da Fala.

Já nos nossos tempos, a organizaçom Causa Galiza tem convocado mobilizaçons desde a vila de Carral até a igreja de Sam Estevo de Paleo, onde repousam os restos de Solís e os seus. Daremos cumprida informaçom das iniciativas que o movimento galego prepare com motivo desta data emblemática.