Por Jorge Paços /
Transcorrêrom 37 anos, mas as pessoas e os projectos políticos envolvidos na trama do golpe de Estado do 23F continuam vivas e actuantes. O nosso povo ainda nom puido saber com toda nitidez as forças e propósitos de fundo daquela operaçom, que serviu para consumar a maquilhagem pseudo-democrática desenhada na reforma política, e para alargar o clima de medo e coerçom que arrancara em 1936. Para a populaçom continuar na ignoráncia, PP, PSOE e Ciudadanos venhem de opor-se à desclassificaçom de documentos que alentava o nacionalismo basco.
A direita nacionalista basca lançou umha proposiçom de lei que permitiria a desclassificaçom da documentaçom segreda com 25 anos de antiguidade, somando-se a esta cifra dez anos mais em caso de documentos reservados.
A entrada em vigor desta lei permitiria deitar luz sobre processos históricos importantíssimos na Galiza e no resto do Reino de Espanha; nos inícios dos 80, além do consabido golpe e do assentamento da reforma, o independentismo enfrentava-se a um processo repressivo de envergadura, com a rusga policial contra Loita Armada Revolucionária; e o nacionalismo maioritário sofria a expulsom dos deputados do parlamentinho por nom jurarem a Constituiçom. Fôrom anos convulsos nos que a falsa democracia decidiu impor com clareza os seus estreitíssimos limites.
O conhecimento transparente da reforma política nom convém à oligarquia, e por isso os partidos dinásticos se apressárom, com a coesom que mostram em temas essenciais, a pôr entraves à proposta.
Segundo o PP , cumpriria dosificar a publicaçom dos dados, de maneira que a cidadania nom conheceria polo miúdo a trama golpista até o ano 2030.
O PSOE, na sua linha clássica de imitar o PP com um pequeno verniz que o diferencie, manifestou a necessidade dumha prórroga que daria luz aos documentos em 2029 ; e Ciudadanos, fiel ao perfil exaltado que está a acentuar desde que capitaliza o unionismo catalám-espanhol, defende que os textos se publiquem 16 anos trás a aprovaçom da reforma : isto é, em 2034. No caso dos documentos reservados, este particular voto de silêncio chegaria a 2038.
Sem surpresas.
Qualquer mínimo conhecedor da opereta parlamentar espanhola conhece o desenlace do debate : com umha fórmula final ou outra, as três forças da direita unionista conseguirám manter na sombra umha trama cozinhada no búnker fascista que rebolia -e ainda rebole- no coraçom do Estado que ocupa a nossa terra. E da mesma maneira, segundo os prazos estipulados, a populaçom iria conhecendo pinga a pinga a documentaçom que regista todo o anterior ao golpe ; por darmos um exemplo, nom seria até 2024 quando conheceríamos a documentaçom protegida nos anos 1969 e 1970. Os herdeiros da carnificina de 1936 e da repressom ditatorial posterior -filhos, netos e já bisnetos, ideológicos e mesmo biológicos- protegem com esmero a memória dos antecessores. É a melhor forma de conservarem os privilégios que ganhárom pola força das armas.