Por Fuco Bandua /

“Queimar simplesmente o decorado do que nom queremos ver mais, o da miséria que oprime, o da cidade de betom que encerra, que esgana.

Queimar os meios de transporte que humilham todos os dias a impossibilidade de sair dessa grisalha.

Queimar as escolas da “república” que som os primeiros lugares de exclussom, de seleçom, classificaçom e de aprendizagem da obediência incondicional.

Queimar os concelhos que gerem a miséria, e as esquadras policiais, sinónimos de humilhaçom, prepotência e malheiras.

Queimar o Estado que gere essas prisons a céu aberto.

Queimar os locais dos partidos políticos, queimar os políticos despreciativos. Queimar a elite.

Queimar os depósitos de mercadorias, os concessionários automotrizes, os bancos, os videoclubes, os supermercados, os centros comerciais, os canles de televisom.

Queimar e nom roubar, só para transformar em fume esta mercadoria pola qual devemos rebentar trabalhando e que devemos “normalmente” cobiçar, consumir, acumular.

Queimar porque semelha que é a única forma de fazer-se ouvir, de nom ser invisível.

Queimar com o espírito evidente de fazer mudar as cousas.”

Texto da voandeira que percorreu as ruas dos arrabaldos de Paris nas revoltas do 2005, acontecidas após os assassinatos de Bouna Traore e Zyed Benna (15 e 17 anos) a maos da polícia.

Sempre na nossa memória Mame Mbaye, a última vítima mortal do racismo institucional no Estado espanhol.