Por Andrés Domingues /
Nos inícios do século XX começam a calhar em Galiza as modalidades de competiçom de remo dominantes no panorama desportivo internacional, tarefa na qual, ao igual que sucede com motoras e veleiros, vam desenvolver um papel preponderante os primeiros clubes náuticos organizados polas elites urbanas e a atividade que estas levam a cabo.
Em quanto ao remo de base autóctone, nas décadas iniciais do século XX nom só se confirma senom que se afiança e intensifica a tendência iniciada no fim do século XIX de que sejam grupos urbanos diferenciados dos trabalhadores do mar os que fomentem e protagonizem boa parte das abundantes provas que se celebram ao longo da temporada estival. É mais, segundo a lógica do acelerado processo desportivizador, a atividade do remo de ressaibo tradicional fica inserida definitivamente em umha dinâmica associativa que passa pola organizaçom se secçons náuticas pertencentes a sociedades desportivas ou de recreio. É um fenômeno já alviscado no século anterior, mas que agora alcança um incremento notório, básico para a supervivência da modalidade do remo própria da costa galega e do Norte da península.
Esta dinâmica pode-se apreciar mui claramente n´A Corunha, onde, já na primeira década do século, convivem e competem as embarcaçons e tripulaçons do Casino Corunhês; Sporting Club; Circo de Artesanos; sala Calvet; Liga Marítima; Club Corunha e Everton, F.C., protagonizando provas nas que se pom de manifesto umha intensa rivalidade. A diferença do que acontece no século XIX, os enfrentamentos entre estas tripulaçons configuradas por moços estudantes de boa posiçom e nas que cobram protagonismo, entre outros, assalariados, dependentes e contáveis, distam muito de ser um passeio carente da necessária componente agônica, já que com a finalidade de alcançar o nível dos profissionais do mar e dominar aos seus iguais, é bastante comum encontrar agora esta nova geraçom de remeiros na doca do porto, adestrando-se para afrontar com sucesso os seus retos.
A perda de protagonismo das gentes do mar nas regatas de remo, mui notória na década de 1910, ainda que nom signifique a sua total exclusom, entre outros fatores, deve enquadrar-se num período convulso, propiciado pola inclusom de importantes novidades no âmbito do trabalho e da exploraçom de recursos marinhos.
Um dos aspectos que cumpre ter em conta é a paulatina irrupçom dos vapores dedicados à pesca que, por exemplo, nas localidades de Vigo e Bouças somam 74 antes que remate o primeiro ano do século. A motorizaçom da frota pesqueira, incrementada co passo do tempo, nom implica a desapariçom das embarcaçons artesanais propulsadas a vela e a remo.
Que vam seguir tendo um grande protagonismo, mas, como acontece com o comum das inovaçons técnicas, neste caso aplicadas ao âmbito do trabalho, afetam em maior número aos mais novos. Esta qualitativa subtraçom ao oficio do remo reflete-se na sua dimensom desportiva e competitiva, vendo-se privados de boa parte dos braços mais fortes e qualificados para leva-la a cabo. Isto faz-se mais notório nos portos com maior capacidade inovadora, que, ao mesmo tempo, vinham sendo e vam ser os principais defensores do remo de raizame autóctone.
Outro elemento inovador que, especialmente no arranque do século, vai ter repercussom com a motorizaçom na subtraçom de marinheiros da prática desportiva do remo é a introduçom da trainheira. Trata-se de umha embarcaçom rápida na que se combinam o remo e a vela, e que leva associado um novo aparelho de pesca mais eficaz para a obtençom de capturas que os vigentes no momento. Especialmente a arte do jeito, que se revela incapaz de competir com umha inovaçom técnica contemplada polos jeiteiros como depredadora e esgotadora de recursos. Inicia-se assim umha luita, com gram repercussom nas Rias Baixas, na que se implicam tanto as elites sociais e econômicas, partidárias ou contrarias à trainheira, coma os marinheiros progressivamente adaptados à nova arte e os jeiteiros. Cada grupo em disputa é apoiado por distintos pessoeiros políticos que independentemente da sua adstriçom ideológica, erigem-se em defensores de umha das posiçons enfrentadas, salvaguardando com esta atitude interesses econômicos, locais e, por suporto, pessoais.
Ao mesmo tempo em que se desenvolve o importante conflito na pesca de baixura, os novos coletivos urbanos que através de clubes passam a protagonizar a prática do remo vam reduzindo a variedade de embarcaçons em favor da trainheira. Deste jeito, a princípios do século XX, novas embarcaçons, novos coletivos sociais e novas práticas associativas vam supor umha volta de rosca mais aplicada à prática do remo autóctone, que, desde o derradeiro terço do século XIX, se vem afastando do âmbito da competiçom tradicional para integrar-se nos esquemas do desporto moderno.
Por outra parte, e a pesar da etapa convulsa que se vive, nom se perde o interesse em que os profissionais do mar sigam vinculados às regatas. Nuns casos, enquanto os membros das sociedades desportivas cometem em trainheiras, os marinheiros desacostumados a estas embarcaçons fano nas próprias do seu âmbito laboral. Por exemplo, em 1910, n´A Corunha, participam em competiçons de bucetas, enquanto os membros das sociedades desportivas competem nas trainheiras. Pola contra, em áreas das Rias Baixas, nas que as trainheiras estam mais implantadas e assumidas, também na sua faceta desportiva som tripuladas por pescadores.
A pesar de que é claro o desenvolvimento do remo como prática desportiva, a demora em criar umha normativa comum e umhas estruturas burocráticas-desportivas e a posiçom periférica e feble que ocupam os territórios ibéricos nos que se desenvolvem as regatas de trainheiras a respeito da desportivizaçom mundial vam evitar que estas passem a formar parte da estrutura desportiva internacional. Consolidam-se assim até a atualidade baixo o qualificativo tradicional, com as conseguintes conotaçons tendentes a ocultar que esta modalidade de remo é basicamente um desporto contemporâneo que, desde a metade do século XIX, vai desenvolvendo-se na Galiza ao ritmo da transformaçom das principais cidades e vilas portuárias. Ademais, mostra muita mais perdurabilidade, estabilidade e relevância social que os jogos realmente tradicionais, mas também que o frontom, prática e espetáculo que, nom convém esquecer, convive com as regatas na sociedade urbana galega do século XIX.