Por David Rodríguez /

Lembrei estes dias, co galho de dous acontecimentos da actualidade, a figura de Urbano Feijóo de Sotomayor, o “prohomem” que, durante os anos 50 do século XIX —quando a proibiçom do comércio de negros começava a fazer dessa actividade um negócio arriscado e a emigraçom galega começava a ser um assunto de massas— tentou substituir, baixo o guarda-chuva dumha missom patriótica (branquear a ilha de Cuba), a trata de negros pola de galegos.

A primeira nova de actualidade é que o Concelho de Barcelona vai retirar a estátua erigida na honra de Antonio López y López, negreiro barcelonês especialmente falto de escrúpulos. Toma-se essa decisom num contexto em que, através dalgum trabalho historiográfico recente —Lizbeth J. Chaviano Pérez e Martín Rodrigo y Alharilla (ed.): Negreros y esclavos. Barcelona y la esclavitud atlántica (siglos XVIXIX), Icaria, 2017—, se discute sobre o papel do comércio de escravos na “acumulaçom primitiva” da burguesia catalá.

A segunda nova tem a ver com um artigo em que Anxo Lugilde sinala como no famosamente censurado livro Fariña. Historia e indiscrecciones del narcotráfico en Galicia de Nacho Carretero, sai bem parado Mariano Rajoy em comparaçom com outros prebostes da que, co tempo, há constituir a facçom mais regionalista do PP da era Fraga. Assim, segundo esse livro, Rajoy, o mais madrilenho de todos aqueles dirigentes populares, tentaria pôr freio aos vencelhos entre a daquela Alianza Popular e os capos do narco-tráfico que acabariam transformando-se em senhores de negócios durante os anos oitenta e noventa do século XX.

Se toda burguesia é, a pouco que se escarve, lumpem-burguesia, este axioma parece tomar ainda mais verosimilitude quanto mais periférico resulta o território onde se assenta essa burguesia. Assim, Urbano Feijóo de Sotomayor, num alarde de falta de escrúpulos nom ultrapassado polo infame Antonio López, non há duvidar em hiperexplorar os seus próprios paisanos convertendo-os em escravos (como o “Império Inditex” iniciará a sua própria acumulaçom primitiva aplicando o esquema da maquia às costureiras galegas).

De igual jeito, e em evoluçom coerente co passado escravista da burguesia corunhesa de origem catalá (e non só) , a emigraçom massiva de galegos e galegas para a América no século XIX há gerar todo um modelo económico do que se vam nutrir as burguesias portuárias de Vigo e a Corunha; modelo económico que chegará até o século XX onde as remessas dos emigrantes (agora também para o resto de Europa) há constituir um fluxo económico nada desprezível para a banca galaica.

Assim, ser lumpem-burguesia —escravista de galegos, fretador de buques cargados de mao de obra barata, receptor de remessas de emigrantes, traficante de drogas ou gerente de maquia— é o caminho mais curto para ser burguesia num país que, como demostram todas essas actividades, está bem encravado geograficamente para jogar o jogo do capitalismo, mas num Estado, como demostra o plano europeu para o transporte de mercadorias por caminho de ferro segue, geopoliticamente, sacrificando o seu quadrante noroeste. Precisamente o que sacrificou de a cavalo dos séculos XVIII e XIX —quando Galiza era demograficamente tam potente como Catalunha— para que crescesse o triângulo político-económico que, segundo Vicens Vives, conformava o têxtil catalám, a minaria basca e o cereal castelhano.