Por Michael Billig (traduçom do galizalivre) /
Em Natal fazia-se neste portal um repasso da historia da Seleçom Galega de Futebol e relatavam-se como os governantes da direita espanhola sempre se opuseram à sua existência, chegarando a qualificar os seus jogos como circo indentitário. Eram cientes que os jogos da Seleçom Galega de Futebol, como qualquer outro grande evento desportivo, som criadores de consciência nacional, e polo tanto há que evita-los por todos os meios, deixando este labor unicamente para as seleçons espanholas. Em relaçom a este tipo de fenômenos, reproduzimos um fragmento do livro “Nacionalismo banal” de Michael Billig.
Devemos perguntar qual é o significado de tanto agitar bandeiras? A questom da masculinidade é claramente importante. As páginas de desportos som páginas de homens, se bem nom sejam apresentadas como tal. Aparecem como páginas dirigidas a toda a naçom, da mesma forma que o pub britânico se apresentou como umha instituiçom para todos os britânicos. Nos campos de jogo estrangeiros, os homens ganham troféus ou perdem a honra fazendo batalhas em nome da naçom. Os leitores, principalmente do sexo masculino, som convidados a interpretar esses feitos masculinos em termos da pátria como um todo e, portanto, as preocupaçons dos homens som apresentadas como se definissem a honra de toda a naçom.
O paralelismo entre o desporto e a guerra parece óbvio, mas é difícil especificar com precisom a natureza do vínculo. À primeira vista, pode parecer que o desporto é umha reproduçom benigna da guerra. É fácil, demasiado fácil, considerar que os habituais circos do desporto internacionais som substitutos do campo de batalha. Onde quer que as naçons luitassem de verdade, sublimam agora as suas energias agressivas em batalhas pela preponderância no terreno de jogo. Quando convidam aos leitores a agitar bandeiras, as páginas desportivas ecoam a linguagem da guerra. Som usadas frequentemente metáforas do armamento (tiros, lançamentos, ataques). Se o desporto é umha sublimaçom, entom agitar as bandeiras som umha válvula de escape para liberar energias masculinas agressivas e transformar o mundo em um lugar mais pacífico.
No entanto, devemos desconfiar de umha ideia tão reconfortante. Os numerosos programas de televisom e violência combinada nom indicam que as “energias agressivas” funcionam assim. Além disso, os vínculos entre desporto e política garantem que o primeiro nom é um mero substituto simbólico para o último. Com a ironia ajeitada, Umberto Eco sugere que “o debate desportivo (referido a eventos desportivos, a conversa sobre eles, o que é dito sobre isso, a conversa dos jornalistas que falam sobre eles) é o sucedâneo mais socorrido para o debate político”. Mas o desporto nom se limita ao campo de jogo e ao território sinalado nos jornais. Intromete-se no discurso político. Os políticos usam frequentemente metáforas desportivas, inclusive aquelas que fazem referência ao campo de batalha. Nixon gostava particularmente de símiles de boxe. Margareth Thatcher preferiu a linguagem do críquete e declarou muitas vezes que “bateu para a Gram-Bretanha” (…) Além disso, como insinuou Eco, o desporto pode chegar a substituir o debate político dentro da própria política, contribuindo assim a promover umla política perigosa de “nós” contra “eles” que parece transcender o alcance do debate (…)
Os desportos nom ecoam simplesmente o campo de batalha, também fornecem modelos simbólicos para interpretar a guerra. Quando os soldados britânicos voltaram triunfantes da guerra das Malvinas, foram recebidos no porto por uma multidom que animava, cantava e agitava bandeiras como se celebrasse o retorno de umha equipa de futebol com um sub-campeonato. Durante a guerra, os caricaturistas representaram com frequência a disputa como um jogo de futebol. Aqueles que participaram de açons militares, como os pilotos americanos na Guerra do Vietnã, acostumam usar metáforas do campo de jogo para explicar as suas experiências. Nesse sentido, a guerra é interpretada em termos de algo mais familiar.
Como é natural, a questom de gênero nom pode ser ignorada. Som os homens quem em boa medida, leem os relatos diários das páginas desportivas onde se agitam as bandeiras. Embora a criaçom do Estado-naçom poda ter introduzido às mulheres na vida política a umha escala desconhecida até o dia de hoje, a cidadania permanece segregada por gênero nos detalhes relativos a direitos e obrigaçons. É dos homens, acima de tudo, de quem se espera que respondam ao chamamento definitivo do Estado para tomar as armas, som eles quem cumpriram com a conduta da guerra, disparando e sendo baleados e violando, mas nom sendo violados, pola causa da pátria. Como argumenta Jane Bethke Elshtain, o motivo persuasivo que leva aos jovens ao campo de batalha é o sacrifício, mais que a agressom: “Os jovens vam à guerra nom tanto para matar, mas para morrer, para entregar o seu corpo concreto a esse corpo maior, o corpo político”.
As crises políticas que levam à guerra podem ser geradas rapidamente, mas nom a vontade de sacrifício. Deve haver ensaios prévios e recordatórios de modo que, quando a fatídica ocasiom surge, os homens e as mulheres saibam como se espera que se comportem. Faz-se umha preparaçom banal diária. Nas páginas desportivas, quando os homens procuram os resultados da sua equipa favorita, leem as façanhas de outros homens que luitaram pola causa desse corpo maior, a equipa. E com frequência a sua equipa é a naçom, que combate contra os estrangeiros para obter a honra. Assim, está em jogo um valor engadido de honra impossível de especificar.
Examinar os resultados do críquete, futebol ou beisebol nom é como ler o discurso de um ministro da economia ou a “reaçom de Tóquio” a um bombardeio de Bagdá. Nenhum sentido do dever assiste à leitura de informaçons desportivas. As páginas desportivas som, parafraseando a Barthes, textos de prazer. Dia após dia, milhons de homens procuram prazer nestas páginas admirando o heroísmo pola causa nacional, desfrutando de umha prosa que se remite intertextualmente ao campo de batalha.