Por Antom Santos /

Nos dias mais agitados da campanha do referendo catalám, um grupo de polícias à paisana espancava com porras extensíveis um camareiro que se dirigira a eles em língua italiana, porque nom queriam que “lhe falara catalám”. Conta-o o jornalista Jordi Borràs em Dies que duraran anys, onde recompila os centos de casos violência ultra contra o povo.

É a versom desorbitada e física dum ódio fundo que se manifesta também em anedotas. Há umha resposta imediata e agressiva a qualquer mostra de aprécio polo próprio. Num diário direitista, os jornalistas denunciavam a tentativa da Mesa pola Normalizaçom de “impor o galego na Galiza”. Em Libertad Digital alarmam-se com o video normalizador da RAG sobre os dias da semana e chegam a escrever disparates: este vídeo apuesta por decir primeira feira, segunda feira, tal como dicen en Portugal…

Em La Razón, os cronistas a soldo opinavam preocupados do pulo que, num sector do público culto relativamente amplo, está a cobrar o Reino Suevo: los nacionalistas se inventan un reino a su medida. Para eles trata-se dum reino inventado ou de existência banal, e assim ocultam mesmo as achegas da historiografia independente produzida fora da Galiza.

Na mesma linha argumentativa, de novo Libertad Digital burlava-se há uns anos da recuperaçom popular do Apalpador: tras algunos personajes de reciente invención, como este, se oculta la maldad disfrazada de castañas y caramelillos (cita de Molares do Val).

A pobreza argumental e o gosto polo insulto reiterado leva muitos nacionalistas a rir-se dos nossos adversários; a retratá-los como parvos, anacrónicos e ridículos; um inimigo, enfim, de terceira divisom, que nem impom muito respeito.

Mas nom nos enfrentamos a parvos. Enfrentamo-nos a ignorantes, que é bem distinto. Um tipo específico de ignorantes: aqueles que o som por vocaçom e nom por obriga; contemplam como disruptiva, incómoda, hostil, toda aquela porçom de realidade que nom encaixa no seu discurso sistemático. Hoje sabemos, com toda humildade, que nenhum discurso esgota a realidade (tampouco o nosso próprio discurso independentista). E quando nos ofendemos contra todo aquilo que a sobarda, os resultados soem ser terríveis. Espanha leva anos expulsando, banindo, aniquilando ou invisibilizando o que nom colhe no seu molde. Judeus e mouriscos, livre pensadores e utopistas, heterodoxos, revolucionários e independentistas galegos. Até mesmo federalistas ou republicanos de direitas que se sentiam espanhóis.

Vivemos umha nova vaga dum andaço muito antigo. Rir-se da ridiculez dos tércios de Flandes, da armada invencível, da guarda civil e da legiom, de Marta Sánchez, de FAES e de Rajoy, nom nos leva muito longe. Em geral, rebaixar a altura do opressor é um desabafo produto da impotência.

Toda a anacronia ou sordidez moral que reconhecemos no nosso antagonista nom deve levar-nos a esquecer a sua eficácia no médio-longo prazo, a sua inteligência para sair airoso de conjunturas delicadas, e também e sobretodo, a sua determinaçom por luitar a ferro e fogo, por prevalecer eternamente, sem lugar para a concessom nem o diálogo. Só um Reino forjado em tal nível de repressom e violência secular é capaz de desenvolver estas habelências, mesmo de costas aos ares aberturistas que puderem soplar nos países mais poderosos da contorna. Como todas as linhas do governinho de Feijoo apontam (da económica à idiomática, passando pola florestal), nom se conformam com menos que com a desapariçom total dos fundamentos nacionais da Galiza.

Espanha, “esse doente crónico com saúde de ferro” tem demonstrado isso e muito mais em cinco séculos de saqueio e mal trato ao nosso povo.

Risa e retranca temos abondo; agora resta-nos demonstrar um nível de energia e firmeza equivalente ao de aqueles que nom descansarám até enviar a naçom galega ao cemitério.