Por Iago Santás /
É provável que aínda hoje nom tenha existido umha geraçom vincada a um movimento cultural, em qualquer de súas formas, que nom tenha malhado na geraçom anterior. O choque inter-geracional, a imediatez, a falta de perspectiva que pode dar a juventude (e o novo), e os contextos para se desenvolver, que cada quem percebe como mais desfavorecidos do que outros, semelham ser alicerces indispensáveis para esta afirmaçom.
O punk foi de utilidade a umha geraçom numha determinada época, entre outras cousas para compensar a falta de fontes de informaçom que nom estavam ao alcance de todo o mundo. Além de veicular sentimentos de amor e ódio, fijo de elemento formativo e agitador de consciências em muitas jovens dos anos 90. Era muito simples, para aquelas nascidas a primeiros da década de 80, ter umha opiniom politica sobre aspectos gerais ou sobre aqueles nos que já havia organizaçons políticas a fazer um trabalho específico. Ninguém tinha de explicar-nos o declínio da língua galega, o ritmo vertiginoso da precarizaçom das condiçons de trabalho ou o impato da repressom em qualquer tipo de dissidência. Porém, noutros aspectos mais concretos, aquelas que nom tínhamos umha mente especialmente brilhante ou nom eramos utilizadores habituais de bibliotecas, tinhamos no punk umha porta aberta á curiosidade, formaçom, opiniom e análise de diversos aspectos: a formaçom dumha personalidade e espírito combativo através da música.
Em termos gerais, soubemos o que era a autogestom antes de ter lido nenhum panfleto da CNT, pois nom havia outra forma de desfrutar daquilo do que gostávamos senom era fazendo-o nós próprias. Anos depois soubemos, sem ter estudado empresariais, quais eram as margens de lucro necessárias para conseguir editar um disco a umha banda da que gostávamos e distribuí-lo por todo o país adiante (e mesmo por aqueles locais do Estado aos que tínhamos acesso). Qual tinha de ser o preço do bilhete para um concerto ou qual era o custo das portagens para podermos financiar os gastos de apresentaçom dum livro. Tudo, entre melodias mais ou menos desafinadas.
Mais concretamente, muito antes da mítica secçom anarquista de Maulets nas Ilhas Baleares (realidade ou ficçom?), colectivos como “Negres Tempestes” ou os ácratas abertzales da Baixa Biscaia soubemos do independentismo canário mercé ao LP intitulado “Viva Canarias libres de cualquier Estado (1993)”, intuíndo que nom cumpria nenhum estado ou socialismo de estado para sermos independentistas ou para rejeitar tudo aquilo que tivesse algo a ver com o Estado espanhol.
“Mar Adentro”, o biotopic de Ramón Sampedro em prol da eutanásia, foi um filme celebrado mas a decisom ao dilema “eutanásia, sim ou nom”, já no la dera Evaristo quando também no 1993 cantava aquilo de “los tubos mantienen mi respiración y sé que no volveré a mi cuerpo…la ley me obliga a seguir así, mi fuerza se va por un cable hasta una máquina”.
O veganismo nom estava presente em quase nenhuma das publicaçons alternativas da época na Galiza, mas era conhecida a sua presença nos debates que seguiram á apariçom no 1985 de aquele super-ventas que foi o “Meat is Murder” de “The Smiths”. Aínda assim, eram ingleses, famosos e raros, o qual invalidava-o como prova. Seria no 1999 e com a explosom dessa Escandinávia que foi A Corunha que tomaram corpo bandas que abordavam o tema de maneira explícita, sendo mesmo todos os seus membros vegetarianos ou veganos (Ekkaia ou Madame Germen) e tendo lugar em colectivos, bares, fanzines (depois em foros na Net), debates que além do visceral, deixavam um pouso teórico difícil de conseguir de maneira direta. De Nen@s da Revolta havemos falar logo.
É possível que o “Guerra a la guerra” de Sin Dios conseguisse, no ano da sua saída, mais afiliados á CNT que qualquer dos discursos fotocopiados do Durruti para o 1º Maio. E esse punk libertário, e excessivamente panfletário representado por Puaghh, Los Muertos de Cristo ou Sin Dios passava dos dez mil discos vendidos. Sem ir mais longe, volvendo a Sin Dios, graças a temas como “Sistemas de enseñanza, enseñanzas del sistema”, houve pessoas que puiderom conhecer a Escola Moderna de Ferrer i Guardia ou Paidea.
Se repararmos no mainstream podemos falar do sem fim de músicas que tiveram como foco de interese a EXPO ou os Jogos Olímpicos de Barcelona’92, antecipando-se a esse fenómeno hoje em dia conhecido como gentrificaçom. Reincidentes, Lodi Social, Maniática ou Miseria e Compañía podíam ser exemplos dessa trilha sonora, como poderíam ser outros dez. Escolho a estos porque dá-se a circunstancia de que todas essas bandas tiveram algum membro detido nas protestas que tiveram lugar na altura, provando aquilo “de fai o que fago e nom o que digo”.
A droga ou ser antidroga foram outros cavalos de batalha, nunca melhor dito. Os grupos que se gabavam do flerte com essas substâncias (ou em algúns casos mesmo eram “proud to be junk”), ou os que defendiam a máis radical oposiçom, ou os que optavam por um consumo responsável partilhavam editora discográfica e em algúns casos, concertos. O varrido que a heroína fijo entre os sectores combativos de EH foi abordado polo oitenta por cento das bandas de punk e Galindo era como o coronel de todos, nem só o de Intxaurrondo.
A formosa e combativa campanha de “Insubmissom nos quarteis” nom apanhou de surpresa aos punks da época. É difícil encontrar algumha banda que nom tenha na súa primeira maqueta um tema dedicado a esta problemática. Na Galiza, a banda de punkpop Los Cafres sofreu isto na própria carne: Pablo Ramallo fugiu-se, sendo detido meses depois no local de ensaio (MANCO).
Na Galiza, Radio Oceano deu ao auto-ódio, umha pancada nos dentes, ao ritmo de “esto no es hawai nin falta que fai”. Na televisom pública, Rastreros falou para nós dum Padre que defendia com a escopeta, a súa terra contra uns especuladores. Nenos da Revolta autoproclamou a dignidade rebelde a ritmo de ragga, e quem non tivera lido a Orwell, tivo dicas para enganchá-lo. E os que com Maastricht, tínhamos doze anos entendemos como deitaram ao chao o sector primário. O elenco de bandas Sons de Luita colocou umha palabra, Independência, como tótem da súa produçom artística. Samesugas e esa omnipotência do DIY que é Alberte, pularon polo reintegracionismo em todo o seu catálogo de referencias e loja (Lixo Urbano). Xenreira recolocou as Encrobas para distraídos. Raiados, Soak e Keimakasas fizeram com que esse foco de conflito e efervescência social que era O Morraço tivesse a sua própria trilha sonora e atravessando a ria, na urbe, a participaçom das mulheres na música explicitáva-se com Pili Desvirgueitors, algo nom muito común em 1992.
Além disso, a colaboraçom para o sem-fim de eventos solidários ou reivindicativos, contava sempre com a participaçom, quase sempre desinteressada en maior ou menor medida, de bandas enquadradas nesta subcultura.
Som exemplos escolhidos ao chou para introduzir e dar nó a umha reflexom final: a importáncia de manter, afortalar e apoiar a movementos contraculturais que fagam fácil o difícil. Que alargam essa zona de desenvolvimento próximo necessária para assumir posiçons mais avançadas, exercendo de falsa vanguarda singelamente assumível por todos reocupando a rebeldia desde o lazer. E perde-se.