Por José Manuel Lopes Gomes /

Apenas as toneladas de propaganda governamental encobrem a desfeita da alta velocidade ferroviária na Galiza. Na semana em que um julgado de Verim decidia abrir diligências polos numerosos accidentes nas obras, está na hora de fazermos um repasso dos « danos colaterais » dum mega-projecto que perforou a Terra e desauciou as redes de cercanias.

As obras da alta velocidade na Galiza iniciárom-se em 2001, com o impulso dos partidos do regime e a inibiçom oportunista da esquerda institucional. A oposiçom, organizada por volta do independentismo, o anarquismo e certos sectores ecologistas, recebeu a dose habitual de censura mediática ; tam só as movimentaçons populares a favor do mantimento do comboio de cercanias merecêrom certa atençom da televisom e a imprensa.

Além das controvérsias sobre os seus danos no meio, o esbanjamento energético e a desarticulaçom do território, um dos seus efeitos mais dramáticos resultou incompreensivelmente secundarizado : a alta cifra de accidentes laborais -alguns deles mortais- que se registárom e se registam nas obras.

Já em 2014, as obras do AVE acumulavam um total de seis falecimentos, como denunciara reiteradamente a CIG ; hoje, em 2018, já se contabilizam oito. Entre 2007 e 2009, nos anos de maior apressamento para se cumprirem os prazos da propaganda política e das inauguraçons, três obreiros faleceram nos tramos do eixo atlántico. A partir de entom, os accidentes centrárom-se no Maciço Central galaico, cuja orografia exigiu um esforço de devastaçom ainda maior. De Cerceda ao Carvalhinho, passando por Salvaterra ou a Canda, um mapa salpicado de mortos e feridos foi conformando as obras do AVE.

Desde os primeiros sinistros, todos os sindicatos com representaçom apontárom as condiçons lamentáveis de trabalho nas subcontratas como raiz da perigosidade. Jornadas laborais de mais de doze horas, falta de partes de trabalho, negativa a dar de alta aos trabalhadores na segurança social, sobretodo os foráneos…som algumhas das denúncias que a CIG tem realizado.

Os enormes custes humanos nom se detenhem nos falecimentos, pois também se contabiliza umha listagem bem longa de accidentes graves : eram 26, no cômputo de 2014, e hoje provavelmente ultrapassam os trinta.

Nom há acasos : responsabilidade política.

A CIG apostou em acodir a via penal, dando por feito que umha evidente deixadez por parte da administraçom está por trás da existência de condiçons de trabalho baixo perigo constante. A central nacionalista aproveitou o incêndio com intoxicaçom nas obras no túnel do Corno (Laça) para apresentar denúncia nos julgados de Verim. As promessas de investigaçom por parte da Inspecçom de Trabalho e da Subdelegaçom do Governo ficárom, segundo afirma a CIG, em água de bacalhau.

Resposta judicial.

Resta por ver até que ponto o poder judicial, atado por incontáveis dependências ao poder político, avança na instruçom. No momento de escrevermos esta notícia, o Julgado de primeira instáncia e instruçom nº1 de Verim vem de incoar diligências prévias. O auto reconhece existirem indícios de « possível existência de delito contra os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras ».