Por Jorge Paços /
Deixou-nos há hoje justamente oito anos, depois de décadas num psiquiátrico e de convalecência praticamente solitária no hospital de Lugo. Antom Moreda pertenceu à primeira geraçom de arredistas da posguerra, forjada na Argentina, e voltou à Terra a pôr o gromo dumha nova fase de luita nacionalista. Trouxo ao nosso movimento a palavra e o espírito da militáncia e pagou com o ostracismo o seu justo receio contra a reclusom cultural da causa galega. Esta é a nossa lembrança dum precursor.
Natural de Barreiros (A Marinha), nado nos tempos republicanos, foi um dos milhares de galegos e galegas que pegárom na mala para ganhar a vida além mar. Foi em 1950, com dezasseis anos, quando Antom Moreda Rodríguez marchou à Argentina. Quando o liquidacionismo sepultava na Galiza a organizaçom política, na América sobreviva a Irmandade Galega, que Castelao desenhara como custódio da memória e a trajectória do PG. Nestes círculos adquiriu Moreda consciência do País, na cercania de personagens capitais da nossa história contemporánea: Alonso Rios, o líder agrarista que fora presidente do Conselho da Galiza, ou Soares Picalho, galeguista e socialista criado politicamente no sindicalismo americano.
Um novo arredismo.
Em 1936, os golpistas fanaram o germe arredista que florescia por volta da Federaçom de Mocidades Nacionalistas ; na Argentina, na década de 50, a geraçom dos pondalianos pertencia a outra jeira histórica. O independentismo tivera que reartelhar-se, e faria-o em ambientes juvenis. Alô estava Antom Moreda, junto com Antom Santamarinha, Neira Vilas, Pilar Jeremias, Carlos Abraira e outros. Corria o ano 1953 e fundavam-se as Mocidades Galeguistas de Bos Aires, com expressa declaraçom de arredismo e aquela frase tam aguda: «nom desbotamos a confederaçom com outros povos, mas nunca com os espanhóis, porque nom nos fiamos».
A organizaçom juvenil tivera parte também na organizaçom da logística do Congresso da Emigraçom Galega, que se celebraria em 1956, como comemoraçom do centenário do Banquete de Conxo. Lançara-o o Conselho da Galiza em Julho daquele ano e, entre os muitos oradores, salientou o representante das galegas na Venezuela, José Velo Mosquera : a sua arenga incendiária antecipava a sua aposta pola luita na Terra em tempos de debalar e fugida. Namentres José Velo artelhava o DRIL, Moreda pensava também na volta à Terra e na luita sobre o terreno, muito mais alô dos versos, o ensaísmo e a divagaçom. Eram dous combates paralelos dirigidos ao mesmo fim, e igualmente censurados polos mandarins das letras e do saudosismo, empoleirados nas elites galeguistas.
De Galáxia ao nacionalismo.
Moreda fai realidade o seu degaro de volta à Terra, e a inícios da década de 60 está no porto de Vigo. Trabalhará de comercial da editorial Galáxia e entra em contacto com o núcleo de Brais Pinto. Fundem-se duas tradiçons ; a de América, segundo recorda Méndez Ferrín, traz com ela a palavra « militáncia » e heranças silenciadas polo culturalismo : o arredismo e a memória do Castelao político, desconfiado nos seus últimos dias com todos os espanhóis, inclusive os esquerdistas.
Viajante incansável pola geografia galega, Moreda dirige a operaçom « Paloma Mensajera », um trabalho de constituiçom de rede de todos aqueles núcleos juvenis ciscados pola Terra. O Conselho da Mocidade nasce desta vontade, e o seu potencial resistente fai tremer Ramom Pinheiro e o seu cenáculo. Expulsos os seus membros « comunistas » numha conspiraçom dirigida polos contrários a acçom política, Moreda cai numha crise mental que o levará por um tempo à morte social. O ciclo de luitas encetado com a UPG nom contará entom com a sua participaçom directa.
Ribeiras de Lea : esquecimento e resistência.
Doente, arredado da família por fortes desavinças, e à margem da nova fase da luita galega, Moreda bota décadas recluído no Hospital Psiquiátrico de Ribeiras de Lea ; apesar do distanciamento, nunca deixou de pôr o seu grau de areia à nossa causa. Recebeu homenagens populares, colaborou com a ediçom dum livro com a sua biografia, contribuiu para a a associaçom de psiquiatras e doentes mentais « Gaiola Aberta », dirigida por Ramom Muntxaraz. Deu entrevistas a meios de comunicaçom galeguistas e independentistas sempre que lhe foi solicitado. E mantivo umha fe férrea no ideário que o trouxo da Argentina à Galiza, e que o sumiu nas grandes vicissitudes da sua vida.
Em 2008, dous anos antes da sua morte, manifestava ao portal Vieiros : « Se a Galiza tivesse um Estado, teríamos a dignidade de podermos dizer : ‘na minha casa mando eu’ ».
Umha verdade evidente combatida com tanta sanha como nos tempos em que Moreda iniciou a sua jeira.