Por Antia Seoane /

Tal dia coma hoje de 1972 falecia na cidade brasileira de Sao Paulo, com apenas 55 anos, José Velo Mosquera, logo de umha vida de luita em prol da causa nacional e antifascista.

A memória da causa galega relaciona-se quase exclusivamente com figuras da cultura e está presa da linha mais culturalista que ainda defende umha parte importante do nacionalismo galego. Mas a nossa história como País vai além das letras e conta com numerosas pessoas que, muitas delas soterradas no anonimato, construírom os alicerces dumha naçom que ainda resiste. Cumpre reivindicar e popularizar estes homens e mulheres, entre os que se encontra umha das personagens mais paradigmáticas da nossa história.

José Velo Mosquero militou ao longo de toda a sua vida nas filas do nacionalismo e antifascismo galego, e luitou com todas as ferramentas ao seu alcanço polos direitos nacionais e a transformaçom social de Galiza.

Nasce em 1916 em Cela Nova, no seio dumha família acomodada, motivo polo que recebe umha boa educaçom; isto permite-lhe ter acesso a muitos dos clássicos do galeguismo, entre os que destacará o seu vizinho Curros Enriquez. A sua adolescência coincide com a efervescência política da segunda república espanhola e vê-se atraído polas organizaçons galeguistas que estám a nascer por todo o Pais. Em 1932 funda-se a Mocidade Galeguista de Cela Nova, onde militará, entre outros, o próprio José Velo e o seu bom amigo Celso Emílio Ferreiro. Neste grupo dominava a convicçom arredista e combativa contra o culturalismo que imperava noutras organizaçons. Nesta época é quando as qualidades de José começam a relozir: grandes habilidade de comunicador, inteligente, enérgico e com um carisma capaz de seduzir a mocidade que o escuitava. Em pouco tempo consegue que o seu grupo seja dos mais ativos do País. Em 1934 as Mocidades conformam umha estrutura nacional e Velo formará parte do primeiro Conselho Nacional, onde terá a funçom de secretário geral.

No seio da Federaçom de Mocidades Nacionalistas (FMN) representa a linha mais arredista e rupturista, e defende ideias que chocavam com o ideário assente no Partido Galegista: rejeitamento total a qualquer pacto com forças políticas espanholas, defesa da necessidade da violência defensiva e a negaçom de qualquer pacto que integrasse Galiza dentro de Espanha.

Com o alçamento fascista do 36, muitos dos seus companheiros som assassinados. Ele vê-se na obriga de ingressar no exército franquista, do qual intenta desertar infrutuosamente. Quando remata a guerra, traslada-se a Vigo para escapar da acossa que recebe na sua vila natal. Mas a ditadura nom faz com que abandone o ativismo.

Logo de fortes discrepâncias com antigos nacionalistas que abandonam a luita política e se centram no culturalismo ele opta polo caminho da luita armada, entrando em contato com o Exército Guerrilheiro de Galiza, sendo detido por este motivo em 1944. Com o remate da II Guerra Mundial, vê-se beneficiado por umha amnistia e passa a viver os seguintes meses fugindo das forças fascistas. Vive durante mais dum ano graças ao apoio de famílias labregas que o agacham num faiado. Finalmente decide exiliar-se e logo de passar por Portugal, foge a Venezuela.

O exílio

Umha vez em Venezuela, começa a trabalhar numha academia e é durante estes anos que sofre umha reorientaçom ideológica: estrategicamente pensa que o iberismo, confederaçom dos povos peninsulares que inclui o povo português, podia ser mais frutífero que um arredismo radical. Pensa que a praxe política deve passar pola organizaçom de gente da Galiza, Portugal e dos demais povos da península para formar estruturas comuns e derrubar as ditaduras ibéricas.

Com o passo do tempo, chega a se presidente do Lar Gallego, graças à sua atividade social para unir toda a colectividade galega, mas simultaneamente a este processo, sofre umha radicalizaçom e declara-se publicamente partidário da luita armada contra o franquismo.

É entom quando entra em contato com militares portugueses enfrentados a Salazar, nomeadamente Humberto Delgado, quem se encarregaria do recrutamento de portugueses exiliados no Brasil, enquanto Velo faz o próprio em Venezuela com exiliados galegos. Entre estes galegos, está o comandante Jorge de Soutomaior. Esta é a semente do D.R.I.L., Diretório Revolucionário Ibérico de Libertaçom. Trata-se dum grupo de galegos e portugueses que escolhem a via da luita armada mas que nom se distingue por ter alvos radicais mas pola simples emancipaçom nacional dos povos da península. Velo converte-se em máximo responsável da organizaçom.

O DRIL começa a sua atividade em Fevereiro de 1960 atacando com bombas a Casa Consistorial de Madrid e umha sede falangista. Há um segundo ataque que se desenvolve em cinco cidades do Estado espanhol em Junho de esse mesmo ano.

Consciente das dificuldades da luita, organizam umha açom de maior transcendência e é assim como se trama a açom mais famosa do DRIL, a Operaçom Dulcinea, que consistiu no sequestro do transatlântico Santa Maria. O barco escolhido pertencia à frota mercante portuguesa de 20 mil toneladas e quase mil pessoas entre tripulaçom e passagem. Rebatizariam o barco com o nome de Santa Liberdade.

Dirigidos por José Velo, Jorge de Soutomaior e Henrique Galvao, um comando composto por 24 pessoas toma o barco o 20 de Janeiro de 1961 e anunciam que pretendem ser a origem de umha sublevaçom antifastista. O sequestro é noticia internacional. Os exércitos espanhol, português e norte-americano intervenhem, mas com sectores da opiniom pública simpatizando com a acçom, vêm-se forçados a negociar com os rebeldes. As negociaçons resolvem-se com rumo a Brasil, onde o governo brasileiro daria categoria de refugiados políticos aos combatentes.

Se bem esta açom deu fama ao DRIL graças a que forom quem de por em alerta as ditaduras franquista e salazarista, também supujo o agravamento das diferenças numha organizaçom excessivamente heterogênea e que finalmente se encaminhava ao seu final.

A morte

Logo do sequestro, afinca-se em Sao Paulo onde abre em 1964 a livraria Nós e a editorial Galicia Ceibe. Em 1971 é-lhe diagnosticado um cancro de pulmom e falece um ano mais tarde, o 31 de Janeiro de 1972, com apenas 55 anos.

Mas, que foi de Alexandre, de Ángelo Casal, de Vítor Casas…? que foi de Castelao…? Será que lhes tocou a morte podre…? Afinal, que foi do galeguismo? Em certas artes, o abstraccionismo ainda é válido, mas em política, em patriotismo, nem sequer é decorativo, também apodreceu a galeguidade? Nooom. Os sonhos de justiça que movêrom a vontade de aqueles mártires estám a ponto de serem realizados. Ainda a gente da Galiza emigra. Ainda é esmagada a nossa língua, a nossa cultura e a nossa capacidade de autodeterminaçom. Ainda governa Cláudio, ainda Soyano priva… Será que já a Galiza é ceive? Será que nom ficam filhos e filhas capazes de agasalhá-la? Nooom. Ainda há reservas de honestidade, de decisom, de capacidade de acçom fáustica. Ainda nos emociona Rosalia, nos comove Pondal, nos arrebata Curros. A mátria galega ainda nom tem pátria. Todos os bons e generosos de pé!”