Por Sílvia Pinha e Iago Santás /
Vontade, compromisso e sorriso cúmplice. Ou o tradicional para enfrentar posiçons mais avançadas. Respeito e igualde entre acima e abaixo do cenário e duas maos solidárias que nom sabem estar sem estar onde há que estar.
Fuxan forma-se numha escola há mais de trinta e cinco anos… Podes contar-nos como era o dia a dia da escola?
Fuxan formou-se, há mais de 45 anos, à volta do Colégio Santísimo Sacramento, de Lugo. Era umha residência religiosa de raparigas. Ali ensaiava-as num coro D. Xesús Mato, que foi quem quijo fazer o coro misto e, com muito empenho, foi levando-nos cara a música de vozes e tradicional. Algo, daquela, impensado fora das corais e orfeons do regime e da Sección Femenina.
Como surge a ideia de montar umha banda e mais em concreto como vos ides conhecendo os músicos da banda?
As moças eram amigas entre elas por estarem juntas naquela mesma residência, quase estudavam nos mesmos centros educativos, jantavam e tinham actividades conjuntas. E nós os rapazes, que vínhamos de fora da residência, éramos amigos de andainas –desportos, afeiçons…- pola cidade de Lugo, onde fóramos estudar o bacharelato.
Desde aí a carreira é “meteórica” a nível profissional. Lorient, multitude de festivais no País, certames ganhados… Era fácil combinar esses ambientes mais culturalmente formais com a reivindicaçom e o activismo de Fuxan?
A partir de aí, houvo um tempo de pouso e de reaçom conjunta. Tratava-se de ir pulindo aspectos que de início eram impensáveis. Houvo decantaçons de muita gente que começara com muita ánsia e que, depois, foi esmorecendo. Houvo incorporaçons e um labor de criaçom, cuido, eficiente nom apenas no eido do estudantado, mas também na gente do rural, ali onde ninguém chegava e onde nós cantávamos e recolhíamos novas cançons, num intercámbio de reconhecer-nos.
Sufristes a pressom das FSE polo facto do vosso activismo político-musical? E pressom de produtoras?
O nosso activismo, em apariência, tinha-no controlado. As actuaçons tinham que estar solicitadas e aprovadas de antemao. As letras deviam passar pola sua censura e mesmo irem “traduzidas” em espanhol, por se nom entendiam, chegando a situaçons esperpénticas que hoje nom se compreenderiam. Houvo também outras muitas humilhaçons referidas a suspeitas, negaçons, denúncias encobertas, etc. Nada que tivesse a ver com repressons físicas, nom sendo em grandes concertos ou manifestaçons. Houvo quem o passou pior do que nós.
Tivo isso algo a ver com a ruptura?
Nom, as rupturas dos grupos sempre venhem por distintas conceiçons iluminadas que tensam o ambiente, por protagonismos estúpidos ou ideias descobridoras da pólvora por parte de alguém que “sabe” a soluçom para todos os males, que nunca se equivoca!. Por incidências de variáveis perversas que anteponhem interesses particulares ou de um determinado grupo, dentro do total, ao interesse comum do Nosso Povo. Os problemas venhem da falta de autocrítica, de pensamentos unitários ou de pensar que todo o que se fai, está mal feito. Incluso que virám outros fazer aquelo que custa trabalho fazer.
Em várias palestras escuitei-vos que érades um grupo que tocávades para todo o espectro de, por dizer assim, “a esquerda” activa na Galiza, algo que com A Quenlla e sobretodo com Mini e Mero os mais novos também palpamos. Era muita a gente do circuito que o fazia? Nom existiam posiçons algo mais “sectárias” ou de “partido”?
O pensamento sectário ou de partido é normal que aconteça, mas nom deve ser determinante para abandeirar –em exclussiva- esses interesses dos que antes falava. Cada quem pode pensar o que lhe pete, a liberdade mais do que ser umha palavra, é um exercício. Mas nom deve querer impor-se em ampla gama. Daí venhem problemas e surgem limitaçons que nom levam a nada bom.
No puramente musical, poderias dizer como foi evolucionando a tua carreira a nível artístico: como lírico, compositor e músico?
Sempre gostei da palavra e, desde ela, de acadar cotas de comunicaçom muito mais plenas, como a cançom. A cançom chega a fazer expressom de emoçons e de sentimentos. Eram as palavras de amigos e doutros autores, no início. Verbas de Rosalia de Castro, de Manuel Maria, de Fiz Vergara, de Marica Campo, de Darío Xohán Cabana… Muitas e muitos. Depois queres fazer tu essa combinaçom de música com palavras, e pos-lhe música a poemas. E advertes que chegam e emocionam, que transmitem. Entom ainda vas além, e fas textos que relatam, com maior ou menor sorte, aquel aspecto que tu querias significar. E, depois, vais e musicas os textos e ves que chegam e comunicam, que também criam umha certa consciência de origem, como arma de defesa de nós, do Nosso. A combinaçom de palavra e melodia, dá lugar a aquela cantiga que descreve à perfeiçom aquelo mesmo que tu queres transmitir. Misom cumprida!
Palpas também as mudanças nas produçons? Tanto nos estudos como na organizaçom de eventos?
Hoje todo é muito mais doado, mais próximo. Eu lembro, e nom sem certa nostalgia, aquelas aventuras de ter que ir gravar a Madrid: aqui nom havia estudos de gravaçom. Hoje a cousa resulta mais singela. O que sim mudou muito é o público e as propostas dos directos. Aquelas actuaçons massivas e sedentas de textos, de sentires, forom trocadas por eventos enormes, de espectáculo conciliado em benefícios massivos, de artistas foráneos que nom venhem avondar no orgulho de ser, mas no puramente em linha ou na moda.
Achas que houvo algum momento em que a música que encarnas, e encarnou Fuxan nos inícios e A Quenlla mais tarde, onde a tradiçom se banha com o componente social e reivindicativo, puido ter sido maioritária? Tem remédio?
Os meios de comunicaçom de início forom colaboradores desse acordar cultural e musical. Mas depois, e ainda hoje, mesmo desde as entidades públicas que pagamos todos, som divulgadoras do puramente espectacular e que nom condicione nengum tipo de perversos pensamentos de amor ao nosso. Vam e venhem, a diário, inoculando essa neutralidade incapaz de ofender as mentes limpas e castas de quem nom se compromete com nada, de quem nom quer tomar partido para equilibrar as tantas balanças da injustiça. E ainda menos aquelas que reclamam o direito de ser quem somos, em pé de dignidade. Podem ver-se e ouvir-se, continuam a proclamar programas adormecidos na mediocridade, na falta de sensibilidades, na falta de original engenho. Assim vai a história, igual que os ‘xacobeos’ e ‘luares’, que conciliam entre uns quantos adeptos nom apenas aos que agora mandam, aí os tedes nas suas programaçons, mas a todos quantos mandam na alternáncia dos tempos. Logo virám outros e também acapararám a luita incansável de se acomodar, agora a estoutros. Este filme nom é novo, repete-se em cada ciclo e continuam a ser os de sempre: contestatários e colaboracionistas a um tempo, segundo quem subvencione.
Podes recomendar-nos três discos de cabeceira?
Eu tenho muitos discos de preferência. De amigos e amigas, de desconhecidas e desconhecidos. Nom vos vou dizer todos, é claro, mas som bons os de Miro Casabella, de Quintas Canella, de Tino Baz, de Pilocha, de Maria Manuela, Carme Penim…em fim, e ainda bem deles mais, desses que evitam pôr nos canais públicos e que sufrem o mesmo ‘ninguneo’ que nós.
Mudando de tema, dedicache a vida profissional ao ensino público…todo o mundo recorda o seu primeiro destino profissional… Como foi o teu?
Todos os meus destinos como mestre forom no rural. O primeiro foi no Picato, umha escolinha unitária carregada de sonhos. O meu habitat profissional foi o regresso à terra e à minha cultura matricial para, nela, reabilitar-me do esquecimento ao que nos queriam submeter já, daquelas, nas vilas e cidades. Eu fum provisional e interino enquanto nom me derom um destino definitivo que é onde, já aposentado, moro. Longe do mundanal ruído! Onde botei 40 anos de docência e continuo a aprender.
Fazendo umha linha contínua do princípio ao fim neste eido, quais seriam as mudanças mais salientáveis no relativo à relaçom com o alunado, famílias e administraçom?
As mudanças nos eidos educativos nom se produzirom como muitos sonhávamos. Houvo um intento de especialistas e de practicantes, louvável. Mas nom se fixo, nom houvo confiança num projecto comum e limpo, sem tensons políticas que luxarom todo. Estamos, há que o dizer, governados por incompetentes que nom souberom, nem sabem, ver os projectos pedagógicos que nom apenas aqui, mas no mundo enteiro, dimensionam a educaçom como o melhor investimento que se pode fazer. Umha educaçom participada e participativa, continuadora e correctora das eivas familiares, conciliadora de vontades, de socializaçom e compromisso, menos teórica e mais evidente. A Cultura deve estar sempre por cima de manipuladores, de políticos interessados. A Língua Nossa nom é de direitas nem de esquerdas… A que vem este castigo que ainda nos estám inflingindo? Que se lhes vai fazer a estes responsáveis do caos?
Fuche testemunha directa do decrescimento do galego em todos os ámbitos, onde a escola nom foi exceiçom. Rachando com o pesimismo nasce Semente. Isto levou a umha série de debates onde houvo quem dixo que algo que necessita aportaçom nom é público, polo tanto é un ensino privado (pervertendo o significado da autogestom). Que che parece a iniciativa Semente a nível organizativo e didáctico?
É um eido mais de resistência, de persistência contra um sistema que nom ve se nom é em números. Um sistema quantificador das ausências, ausências de material, de professorado, de apoios, de especialistas… desse necessário sossego para que a educaçom tenha funcionalidade e alcance progressos de humanizaçom e racionalidade. O momento no que estamos é lamentável, merecia umha forte resposta polo que supom de insulto e desconsideraçom com a Nossa Cultura toda, com a dignidade da gente e dos povos.
Ligando um pouco com isto, ou nom tanto… deu-se o debate nos projectos culturais nos que participache sobre a normativa a utilizar? No seio dos escritores, que tu também o és, é conhecido esse debate com posturas por vezes enfrentadas e de assimilaçom do pequeno (RAG), de respeito, ou de mudança como o que é provável que se desse em Manuel Maria. Era frequente esse debate no seio dos/as músicos?
No seio da música este debate sempre estivo no seu lugar. Cada quem exerceu como quixo. O principal é fazer-se entender e que nos entendamos. O prioritário, cuido eu, é normalizar a nossa Língua, a nossa Cultura, antes de perdé-la e ter que pôr laços pretos de despedida. Antes de que no-la furtem, compre resguardá-la. Antes de fazer umha normativa que nos compraza a todas e todos, de momento impossível, o melhor que podemos fazer é anainá-la em formato de afectos. Sem cair na trampa da luita entre nós. Essa seria de novo a sua vitória! A dos que dividem e matam, e governam esta agonia. A minha postura nom é determinante por nengumha, mas som respeitoso com todas. Sei as razons que movem a cada um e a cada umha. Lícitas todas. Eu, polo momento momento, opto por defender com unhas e dentes a nossa Cultura. Depois, se somos quem de nom no-la deixar furtar… já falarám os lingüistas e prognosticadores de porvir –que serám outras e outros-, saberám como conciliar vontades para unha norma comum desta nossa Lingua que ainda nom dixo de vez a sua propriedade na Casa.
No político…como ves a curto prazo o País, achas que estám as forças da oposiçom ocupando o espaço que lhes pertence (o de oposiçom)?
Nom quixera manifestar o meu pessimismo. Penso que é possível, mas nom acredito nos que sempre se perdem pola boca. Cuido que passa um pouco como o da pergunta anterior, referido às normativas. Sei que enquanto nos tenham divididos, vencerám! Os que governam, governarám muito tempo enquanto cometamos o erro de nom nos entender entre nós, de nom nos querer entender. O entendimento parte do respeito que nos tenhamos. O meu pessimismo vem precisamente de nom ver, entre os nossos, canais de respeito mútuo e de possível entendimento. Colocarom as siglas por diante do Povo. Mau asunto!
Nasce a Via Galega, umha plataforma que intenta pôr em cima da mesa o direito a decidir para Galiza; vozes críticas falam de que é pôr os bois antes do carro, que há que alargar antes de arar… Qual é a tua opiniom ao respeito e, sobretodo, qual seria a forma de alargar essa base social vinculada ao respeito à Terra, às relaçons entre iguais, à nom exploraçom do home e a mulher polo home…?
Aquela iniciativa quedou silenciada polos parvos de sempre que agora consideram que nom é o momento “politicamente correcto” e que mesmo pode restar votos. Evitarei dizer pecados!
Como é esta nova etapa profissional com Mini no Parlamento. Estades parados ou simplesmente tocades menos? Estades metidos noutros projectos? Poderemos ver-vos neste 2018?
A política activa, desactiva outras iniciativas pois muda as preferências e referências, muda também os pontos de vista. A Quenlla está em crise de existência, desde há algum tempo, antes de que alguém entrasse no Parlamento ou exercesse outros labores. Houvo problemas, se quadra unha falta de correspondência em responsabilidades, egos mui pronunciados, comportamentos pouco maduros, de desleixo e talvez falta de honestidade para falar em aberto e dizer as cousas sem criar mais problemas. Isto passa com frequência em todos os grupos, quando confluem distintas vontades. Consequência que nos trouxo a esta desfeita, da que nom sei se sairemos. Temo ser de novo pessimista, o que nom quer dizer que se deixem de fazer projectos bem definidos e trabalhos ao respeito, com quem estiver por seguir abrindo horizontes de esperança.
Despedimo-nos sem deixar de agradecer o esforço, a empatia e a solidariedade que sempre mostras de cara aos colectivos mais pequenos, saúde e forte aperta.
Sempre quixera estar com os perdedores de todas estas batalhas, com os que perdemos constantemente e, apesar disso, ainda erguemos das nossas cinzas e com todos os amanheceres, detrás dos que se agocha ainda a nossa definitiva vitória. Apertas fortes. Mero