Por César Caramês /
Ele detivo-se nos chanços à saída da juntança de cinco horas. Olhou-na embroucado e espetou-lhe:
“Estamos a perder o tempo. Assustamos a gente coa nossa linguagem radical, cumpre adaptar-nos ao convencional nos meios para superá-los coas suas próprias armas. Assim ridiculizamo-nos nós mesmos nos seus programas. Olha o bem que o fijo Pablo Iglesias na tele.”
Ela sorriu cansa, atusou a guedelha que lhe cobria o olho esquerdo e respondeu amodo: “A Voz, A Teleghaita, A Reghión, O Retrocesso, O Falo… som todos meios deles que pagam com dinheiro público. Nom se pode voar com asas emprestadas, cumprem próprias.”
Ele estalicou os beiços condescendente: “Eu falava a nível nacional.”
Ela botou a andar: “Eu também.”
Voltárom da máni contra o último assassinato machista e ele debrocou-se no sofá. Tirou pesadamente de telemóvel e trebelhou a subida às redes da sua faciana na faixa de cabeceira. Ela foi-se mudar, devecia por sentir-se já na casa. O bolso ficou dediante dele meio aberto. Nom o duvidou, extraiu o telefone e revisou as últimas mensagens e chamadas. Ainda havia pouco que fora o daquele rapaz. Se ele nom ameaçasse com guindar-se pola fiestra, ela jamais entraria em razom. Sem aquele ataque de ansiedade tam sentido quando ela confessou, sem recorrer a seus pais para que ela nom se equivocasse… Contodo, ainda se havia que assegurar para que desistisse de fugir. Já vem, hora de pôr a tele e sorrir: “Cári, saio eu na entrada do telejornal!”
Baixou ao café porque lho rogou tantas vezes que nom havia outro jeito de que deixasse de enviar mensagens. Por vergonha, nom lhe queria dizer que nom tinha mais quartos que os que lhe dava sua nai da pensom. Mesmo lhe houvera que pedir para botar gasofa e ir colar os cartazes da campanha tragando-lhe a rifa toda. Ele nom deixava de agarimar-lhe o braço enquanto gesticulava. Um fio visguento de cuspe escoava-lhe gorentoso pola beira da boca ao falar: “Querem que lhes ceda as três quartas partes do salário do cargo a eles! Como me pedem que me empobreça? Desde quando é isso de esquerdas?” Ela remexeu no pocilho coa outra mao nas tempas. Ainda lhe doía o corpo de ir-lhe atender o bar à Marcela. Odiava que ele empregasse a conjunçom “i” para arengá-la. Mas velaí seguia: “estalinistas i radicais…” Quando fijo analogia co salário de funcionário, ela tivo que responder que o seu nom era um trabalho, deveria ser um compromisso. Entre gargalhadas ele respondeu: “Sim, sim, claro, ho! Vas vir votar logo?” Entom, ela acendeu o olhar verde num sorriso de friagem ou disparo de neve.