Por José Manuel Lopes Gomes /
Perto dum lustro depois do acidente, ADIF insiste em negar qualquer responsabilidade ante as vítimas e ante o conjunto do povo galego. Umha refinada actuaçom judicial baseada em várias peritagens procura demorar e confundir a opiniom pública, a um tempo que visa lavar o desprestígio que acompanha a companhia. Associaçom de vítimas teima em esclarecer o sucedido, em lograr compensaçom e justiça.
Danificados polo accidente venhem de dar a conhecer que apresentam no Julgado de Instruçom número 3 um novo escrito, neste caso demonstrando que na tristemente conhecida curva de Angróis nom se aplicou a avaliaçom técnica independente de riscos, o que contradiz a legislaçom vigorante. Para o desempenho de labores como estes existe umha empresa pública chamada Ineco, que reconheceu nunca ter sido chamada para umha análise do ponto negro.
Para o comum da populaçom, os termos técnicos nos que se dirime a responsabilidade sonam opacos ; ADIF basea-se precisamente em tecnicismos para defender a sua profissionalidade, afirmando que, embora nom existiu essa avaliaçom pública, si se acolheu a um outro protocolo para esculcar os tramos mais perigosos da via. A argumentaçom nom convence a plataforma de pessoas afectadas, que através do seu advogado, pretendem chamar a declarar dúzias de representantes da administraçom ferroviária : técnicos das empresas de sinalizaçom e segurança, responsáveis de ADIF, e o chefe de maquinistas de Ourense, entre outros cargos.
A sombra da suspeita.
Por riba da actuaçom estatal e empresarial, como adoito acontece no Reino de Espanha, paira umha alongada sombra de suspeita. É por isso que a Comissom Europeia responsabilizara pola redacçom dum informe à Agência Ferroviária Europeia. Esta fora concluinte: a pesquisa realizada em Espanha pola Comissom de Investigaçom de Accidentes Ferroviários «nom tivo suficiente independência, e aspectos chave fôrom deixados de lado». A CIAF é um organismo dependente do Ministério de Fomento, que no momento da amonestaçom europeia chefiava Ana Pastor. A Comissom Europeia chamou a atençom sobre o paradoxo de «pessoal relacionado com as organizaçons envolvidas no accidente» estar a participar da investigaçom.
Além da técnica, a política.
Como temos assinalado neste portal, a relativa complexidade do debate técnico nom devesse ocultar o fundo da questom : o accidente de Angróis deita umha mancha indelével sobre um dos projectos estrela do desarrolhismo hispano, a alta velocidade ferroviária. E assinalar altas responsabilidades político-empresariais iria erodir o sentido último desta infraestrutura.
O colosso da alta velocidade espanhola tem devorado nos últimos lustros o 76% do investimento, face o 17% do caminho de ferro convencional, o massivamente utilizado polas classes populares. A extensom da alta velocidade tem levado à desapariçom multitude de paradas intermédias, aliás de expulsar o tránsito de mercadorias dos caminhos de ferro (pois o AVE e os seus submodelos apenas transportam pessoas). O Estado espanhol é dos estados europeus que menor circulaçom de mercadorias por comboio apresenta (menos dum 4%, face o 18% de países como a Alemanha). Ambas consequências, a expulsom de pessoas e mercadorias das vias, supom o potenciamento da circulaçom por estrada, umha decisom nada inocente. O modelo de transporte sostido por todos os partidos do regime favorece o deslocamento individual e o engorde permanente do lobby combinado de automóbil e auto-estradas privadas. Os seus efeitos som-nos sobradamente conhecidos, numha Galiza umha e outra vez quarteada e desvertebrada polas grandes infraestruturas rodoviárias.