Por César Caramês /

1- A contradiçom capitalista pola que este sistema nom pode evitar a carreira tecnológica que, paradoxalmente, lhe reduz o plusvalor que extrai do trabalho humano levou-no à acumulaçom por despossessom. Igual que no seu nascimento despossuiu da terra os labregos para virá-los operários que se acugulassem nas cidades, agora penetra os redutos que noutrora lhe cedera ao Estado do Bem-Estar por medo à ameaça soviética. Nesta recomposiçom sistémica, acelerada desde a crise de 2008, a pretensom de recuperar o Estado de bem-estar keynesiano do pacto social, por riba por canles institucionais, é equiparável a tentar restaurar o império hitita.

2- Contodo, longe de qualquer fábula negrista ou anarquista flower-power, os Estados com prática anti-imperialista representam hoje o principal valado protector frente a esta nova fase. Entenda-se Estado como exército se se quiger no caso curdo e zapatista. Ao cabo, como bem percebeu Michael Roberts, a relaçom entre exército e Estado moderno é indissolúvel desde o começo. É esse abeiro o único que pode permitir dinâmicas económicas próprias no interno que resgatem os povos das imposiçons do gram capital. Porém, as formas estatais devem mutar e abandonar os modelos de Estado-naçom do XIX nascidos precisamente por e para este sistema-civilizaçom. A democracia participativa, a admissom dos diferentes tipos de opressom para a construçom dumha nova narrativa nacional plural e das de abaixo, sem opressons “preferentes”, resultam vitais para nom redundar nos capitalismos de Estado fracassados ou na social-democracia mais inútil.

3- As formas autogestionárias e de toma de poder podem ser combinadas numha estratégia comum de construçom de contra-hegemonia, como nos ensinam os modelos de Estado paralelo tam praticados polos movimentos de liberaçom nacional. Neste sentido, situa-se como prioritário em qualquer acçom institucional coerente a promoçom da autogestom, da apariçom de institucionalidades paralelas participativas e de meios de comunicaçom independentes sob pena de resultarmos inúteis estrategicamente. Sobram exemplos pátrios.

4- Entender as diferentes opressons que sofre a nossa sociedade como categorias separadas em compartimentos isolados sobre as que umha prima messianicamente sobre as outras conduziu a multitude de derrotas e erros do presente. Esta visom costuma levar à idealizaçom dumha das categorias abstractas por parte da classe média para preponderar nas organizaçons populares fragmentadas. Assim, por exemplo, o supremacismo imperialista vestiu-se decote de esquerda apelando à unidade dumha classe operária imaginária uniforme coa das colónias. Porém, como tem assinalado Grosfóguel, enfrentamo-nos a umha civilizaçom, nom só a um sistema económico. Nom se pode pretender abranger o problema laboral em Galiza, o das mulheres, o sócio-lingüístico ou o da corrupçom separadamente. Ao cabo, as relaçons de poder que determinam todos os eidos som as impostas por umha etno-classe dominante forânea (em origem) que se organiza de jeito hetero-patriarcal, racista e colonial sobre nós desde há cinco séculos. A distância ou proximidade ao modelo oligárquico em todos os sentidos marca as hierarquias locais inferiores sem excepçom. Qualquer proposta alternativa com pretensons de viabilidade deve integrar todas as contradiçons num “povo”, bloco social dos oprimidos aqui e agora, para superá-las ou fracassará. Por isso resulta ridículo invocar a urgência do social sobre o nacional e viceversa ou acreditar na preferência da luita de classe sobre a feminista.

5- Nos momentos de mudança de hegemonia no sistema-mundo é quando se abrem oportunidades para as naçons sem Estado. Aconteceu coas independências latino-americanas apoiadas por Gram Bretanha frente ao decadente império hispânico. Aconteceu após as guerras mundiais coas independências dos países do Leste e a descolonizaçom. Agora que o eixo russo-chinês está a deslocar o hegemom anglo-iánqui, agora que se debilita a UE, seria umha loucura para umha pequena naçom europeia com pretensons de emancipaçom nom ler as oportunidades. O apoio económico e geoestratégico de Venezuela e Bolívia em China-Rússia, o fracasso de Syriza ou o terror espanhol à intervençom russa em Catalunha assinalam-no bem. Explicar que nada tem isto a ver com partilhar os modelos políticos desses países assumindo assim infantilmente que o iánqui ou o espanhol som melhores cuido que nom cumpre, ou?