Por Silvia Magán (traduçom do galizalivre) /

Sergio Legaz é autor da obra “Sal de la Máquina. Como superar la adicción a las nuevas tecnologías y recuperar la libertad perdida”(Libros de acción, 2017) umha análise crítica do processo de adiçom no que nos submírom as novas tecnologias, na que aponta propostas para umha vida menos atada às próteses digitais. Com ele conversou Silvia Magán para debulhar a sociedade híper-dependente cara a que estamos a caminhar.

Como explicas no teu livro, começas-te a dares-te de conta de que algumha cousa nom corria bem quando ergueche a testa no comboio e alviscache aquela cena de pessoas cabisbaixas mergulhadas nos seus telefones; mas decidiche sair da máquina naquele intre, ou levavas a valorizá-lo um tempo?
Na verdade, desde vários anos atrás, ao instalar a internet na minha morada, notara às claras os efeitos adversos que a conexom continuada a um ecrá chega a provocar sobre a consciência. Daquela eu vivia sozinho, e vim na rede umha janela aberta a um mundo cheio de entretimentos e recursos de interesse. Botava sete horas de manhá no meu posto de trabalho colado ao ecrá do computador, e assim que chegava à morada, outras três, quatro ou cinco horas no meu computador pessoal antes de adormecer. Como consequência disso, ao cabo dumhas poucas semanas a minha capacidade de atençom e de concentraçom começárom a esfarelar-se, deixei de parte afeiçons e hábitos que até daquela me gratificavam imenso, e fiquei atrapado na máquina; porém, o meu grau de imersom era tal que nem me plantejei a necessidade de desligar.

Logo, ao sair a ecrá de todos os lares para se meter nos nossos bolsos, permitindo-nos estar ligados em toda parte e em todo intre, cheguei a me sentir esgotado e até mesmo torvado pola ligaçom contínua a esse outro mundo. Passei umha jeira na que a minha relaçom com a máquina foi de amor-ódio, de afastamento, reconciliaçom, e volta ao começo. Até que a saturaçom se junguiu com esse intre de inspiraçom que mentas, quando erguim a olhada do meu smartphone num vagom do metro e enxerguei o pesadelo em toda a sua magnitude: todos cabisbaixos, todos envisos, todos submissos à máquina. Sem dúvida, esse intre marcou um antes e um depois porque foi o feito concreto que me motivou a tomar medidas e, entom, a agir.

Desde que te decatache da existência dum problema, quanto tempo demorou até te decidires a desligar?
O processo de desconexom começou aginha. Nesse mesmo dia estivem mais desligado do telefone do que era costumeiro. Logo, aos poucos dias, comecei a me forçar a passar sem o telefone todos os meus trajectos no transporte público. Esse foi o meu primeiro passo. Nom sempre o conseguia, mas estava pronto para encetar a sério um processo, chanço por chanço, de desintoxicaçom digital.

Que mudanças notavas no teu corpo, mental e fisicamente, no que durou esse processo?
Durante os primeiros trajectos sem ter a mao a via fácil de distraçom que supom o telefone, sentia-me desacougado de todo. Tocava o móbel no bolso, tirava-o um intre, olhava-o com sufoco e guardava-o de novo, nom sem esforço. Por vezes recaía e consutava o ecrá, ainda que teimava em desligá-la o antes possível. Eu nom sei se poderia comparar-se este estado de nervosismo com o sindrome de abstinência dos clássicos aditos. Foi duro comprovar que me custava reger-me para passar o tempo, sem recorrer aos entretimentos multimédia que nos fornecem arreo os ecrás tácteis.

Assim que superache a adiçom, notache ganhas de utilizar o smartphone como antes?
Nom, nunca. Mais bem ao contrário. O meu seguinte passo foi desligar as notificaçons do WhatsApp eo Telegram, as duas principais aplicaçons de mensagens instantáneas. Isto supujo um alívio, que logo foi ainda melhor, ao decidir desinstalá-las do meu telefone. O penúltimo passo foi desfazer-me do meu smartphone último modelo, e recuperar um telefone velho sem internet que guardava desde havia tempo numha gaveta. Com cada novo passo cara umha desconexom mais completa, longe de me sentir inquieto, topava-me cada vez melhor, mais repousado, mais capaz de me concentrar, e para desfrutar de todas as outras cousas, com mais clareza mental. Sempre utilizo o mesmo exemplo, porque me serve para o descrever plasticamente: foi como desligar umha extractora de fumos depois de teres passado umha hora a escuitares esse ténue mas irritante zombido de fundo. Aginha te decatas do que fica no seu lugar e agradeces o repouso. Enfim, essas retribuiçons reafirmavam-me nos passos que dera e alegraavam-me por ter deixado a minha obsessom polos ecrás.

Botas de menos algumhas aplicaçons que achavas essenciais no teu dia a dia?
Quiçá GoogleMaps, porque por razons laborais movo-me muito por lugares desconhecidos da cidade, e sempre vai bem poder consultar um mapa de jeito rápido e imediato. Mas agora aprendim a perguntar à gente pola rua (…) Agora apenas consulto o correio desde o computador fixo do trabalho e em dous momentos pontuais do dia, ao estar na morada.

Que aspectos positivos che achegou o fim dessa adiçom?
O primeiro, quiçá anedótico, é ter recuperado a minha capacidade de ler livros, que fora fanada ao acostumar-me a ecrás que só oferecem informaçom breve, fugaz e fragmentada. Agora desfruto de novo de longas leituras de livros em formato papel (…) Recuperar os momentos de silêncio, de reflexom, de observaçom tranquila, ou de puro e simples aborrecimento, foi sem dúvida o mais importante. Topei-me de novo comigo mesmo e com a vida que deixara a um lado enquanto estivem mergulhado na ensonhaçom da máquina, o que é maravilhoso.

Houvo aspectos negativos?
Nenhum digno de mençom, apenas brincadeiras com a família e a ocasional incomodidade de pensar que alguém habituado aos ecrás poida estar a sentir-se violentado na minha presença, ao saber que estou desligado.

Como contemplas agora as pessoas que vês pola rua ou no comboio, ou onde for, a utilizarem o smartphone? Sentes-te diferente diante delas? Que sensaçom transmitem?
Eu nom podo pretende ser diferente, desde que eu sempre fum mais um. Nesse senso nom julgo ninguém, eu vivo o meu próprio processo, e se xurde a ocasiom, partilho as minhas impressons a quem lhe interessarem. Si que sinto o desacougo de nos ver a todos dominados dum ou de outro jeito pola grande Máquina, com maiúsculas, da que este pequeno trebelho que levamos na mao todo o dia é apenas umha das suas muitas manifestaçons. Todos podemos decatar-nos do estado de hipnose colectiva que vivemos, apenas é preciso determo-nos um intre, olhar à nossa volta, e reflectirmos. Por isso escrevim “Sal de la máquina”; se alguém resgatar dessas páginas duas ou três ideias inspiradoras, fico satisfeito.

Umha pergunta um bocado utópica: acreditas ser possível reeducar a populaçom para utilizar o smartphone com siso, para nom afectar a sua vida diária, ou é missom impossível, e só aqueles com força abonda para fugirem dos estímulos poderám fazê-lo?

Mais que umha missom impossível é umha missom mal colocada. E é que na minha opiniom nom se trata de focar este assunto do ponto de vista da “boa utilizaçom” ou dumha “má utilizaçom”, senom de nos replantejarmos, passo a passo, o nosso modo de vida. É possível utilizarmos bem um terminal de telefonia para cuja fabricaçom se esbanjárom 75 kilos de recursos naturais? E que dizermos dos entre seis e dez milhons de pessoas assassinadas no Congo, ou das 200000 mulheres violadas como consequência directa dos conflitos regionais para se fazer com o controlo do coltám, que depois utilizam as corporaçons occidentais para fabricarem os seus móbeis? Pode-se ignorar o feito de que redirigir todas as soluçons, todas as utilidades, todas as avantagens e todos os entretimentos a um dispositivo táctil nos arreda da nossa identidade e da vida? Eu acho que para poder existir umha “utilizaçom correcta” dos telefones, estes devessem apresentar umhas funçons mais básicas (envio e recepçom de chamadas, como antano), de modo que nom nos tentaram de seguido à contemplaçom do ecrá baixo qualquer pretexto. Vivemos na sociedade do consumo e do entretimento, e a nossa força de vontade é limitada, minárom-na com estes e outros ópios. Ao meu ver, a disjuntiva é outra: desconexom voluntária, progressiva e sem traumas, na linha do decrescimento; desconexom brusca e nom desejada quando em anos vindouros declinarem os recursos naturais e fontes de energia que fam possível esta ensonhaçom; ou, também, continuarmos na mesma, como se nada suceder, até o corpo aguentar. Em qualquer caso, a motivaçom para sairmos da Máquina tem de partir de cada indivíduo. Cada um de nós deve pôr numha balança todos os elementos e tomar as decisons que nos conduzirem a um maior bem estar pessoal e social.

Qual acha você que é o estado actual da sociedade conectada? Cara onde imos?
Neste ponto vejo oportuno citar umha frase de Miguel Brieva, que lim no seu livro “Memorias de la Tierra”. Para quem desbotarem a visom que vimos de gizar como excessivamente pessimista, “mais desacougante devesse parecer o optimismo hegemónico dumha realidade onde todos os indícios conduzem ao desastre, sem ninguém fazer nada para o evitar”.