Por Antia Seoane /
No dia 7 de Janeiro cumpriu-se o 68º aniversário da morte de Castelao, figura central do nacionalismo galego. Era 1950 e o fascismo espanhol recebia com estas palavras a sua morte:
Tendo morrido em Buenos Aires, o político republicano e separatista galego Alfonso Rodríguez Castelao adverte-se o seguinte: A notícia da sua morte será dada em páginas interiores e a umha coluna. E, caso de inserir umha fotografia, esta nom deve ser dum ato político. O falecido somente será louvado polas suas características humoristas, literárias e caricaturistas. A sua personalidade política pode ser destacada, sempre que seja mencionado que foi errada e que se aguarda da misericórdia de Deus o perdom dos seus pecados. De sua atividade literária e artística, nom será feita mençom algumha ao livro “Sempre em Galiza” ou aos álbuns de desenhos da guerra civil. Qualquer omissom destas instruçons dará lugar ao correspondente expediente.
Palavras que lembram demasiado às publicadas polo Ministério de Interior durante as últimas semanas advertindo de possíveis delitos de enaltecimento do terrorismo por publicar opinions nas redes sociais.
Esta advertência de censura alongou-se além dos dias seguintes ao seu passamento e chega até os nossos dias. Assim é habitual ouvir políticos profissionais de qualquer ideologia louvar unicamente de Castelao, as suas características humorísticas e literárias, obviando o seu perfil político, tratando de apropriar-se da sua figura e roubando ao povo trabalhador galego um dos seus referentes mais importantes. Um claro exemplo foi o seu traslado à Galiza em 1984 a pesares de que o próprio Castelao deixou escrito a sua vontade: “embora morresse aqui os meus ossos iriam ao caminho de esqueletos que une a Galiza com a Argentina. Mas som feliz porque tenho a esperança de morrer na minha terra. Eu hei de ir lá, quando sobre a minha pátria alumee o sol da liberdade e nos vales do meu país ressoe o aturujo da vitória”.
Mas também o nacionalismo galego maioritário mantém a censura a certos posicionamentos políticos do rianjeiro. Embora estendam a sua memória também à dimensom política: a sua crítica aos horrores da guerra civil, à crueldade da ditadura, e a meirande parte das suas reflexons sobre língua, economia ou política reunidas no seu ensaio “Sempre em Galiza”, mantenhem na sombra a postura política que Castelao mantivo na última época da sua vida.
Entre os anos 1944 e 1945, Castelao, que naquel momento era o presidente do Conselho da Galiza, mantivo umha série de correspondência privada com José Antonio Agirre, lehendakari vasco no exílio (dita correspondência fica guardada no National Archive Euskadi). Logo de que ambos lideres nacionalistas comprovarem que a vontade das potencias ocidentais era manterem no poder o fascista Francisco Franco, Castelao escrevia-lhe as seguintes palavras:
‘Na minha carta anterior, no entanto, faltava um quinto punto: o da “luita clara e aberta para a nossa independência nacional” no caso de que ficaram esgotadas todas as possibilidades dumha concórdia espanhola com base em princípios federais ou confederais. Essa ideia nem repugnaria a um grupo de galegos, se fosse viável e conveniente; mas a sua abordagem só poderia obedecer a um estado de desespero –previsível, sim, na nossa íntima consciência, mas ainda intolerável para as camadas superficiais do povo galego–. Nós nom sabemos que atitude adotariam os galegos se viessem frustradas as suas esperanças atuais. Tu mesmo tens alimentado essa questom ao enumerar os princípios que devem sinalar a meta das nossas aspiraçons dentro de Galeuzka, talvez porque o seu objeto e propósito se limitam ao equilíbrio e à paz do conjunto hispânico. Ideologicamente, estou disposto a considerar o separatismo com todas as consequências porque som nacionalista; mas neste punto, já nom me atreveria a representar a Galiza atual, mas umha Galiza em potência. Lembro-me que, no início das nossas campanhas, os galeguistas avançávamos tanto polo pensamento que, quando olhamos para trás, estávamos sozinhos. Entom, adotamos umha tática possibilista, que consistiu em avançar cautelosamente, destacando-nos dos demais galegos. Se alguém nos acompanhava, retrocedíamos com el para entrar em contato com os demais e repetir o mesmo avance. Assim, com este procedimento, reconquistamos o sentimento diferencial do nosso povo e a aspiraçom dumha vida livre; …’
Fica patente que na parte final da sua vida política, Castelao abandonou a ideia ilusória de alcançar umha reforma do Estado espanhol que possibilitasse um desenvolvimento pleno da Galiza, e optou abertamente polo independentismo como única soluçom para a supervivência do Pais.