Por Jorge Paços /

A pesquisa recente, reforçada pola popularizaçom historiográfica através das novas tecnologias, nom deixa de dar novas de interesse sobre o passado do país. No mês de Dezembro transcendia ao grande público umha das primeiras figuras dos nossos devanceiros: um guerreiro galaico encadeado por Roma.

Quem se achegar ao Arco de Carpentras, de começos do século I, verá quatro figuras de cautivos, na clássica representaçom que o Império fazia das suas vitórias militares. Um deles veste capas e pelica de la, tem barba mesta e guedelhas; ao seu pé, a falcata, a clássica arma que portavam na Península Ibérica os povos rebeldes a Roma. O professor de Arqueologia Joaquín Ruiz de Arbulo, actualmente na Universitat Rovira e Virgili, vem de desvelar a incógnita. Apesar de levarmos anos sem se poder identificar ta figura, ele é talhante: “trata-se dum cativo galaico”.

As conclusons fôrom expostas num seminário de Arqueologia e Ciências da Antiguidade das Universidades de Santiago e Vigo, e logo sistematizadas num artigo publicado por Manuel Gago em culturagalega.org

O papel da propaganda militar e política.
Segundo explica Gago, baseando-se nas análises da equipa investigadora de Ruiz de Arbulo, os arcos fam parte do aparelho de propaganda romano, centrados nos espaços urbanos, e com um papel fundamental na difusom da cultura imperialista (com um papel semelhante ao que hoje teria a televisom ou o internet empresarial). Emperadores como Júlio César ou Augusto inaugurariam conjuntos escultóricos mui imponhentes nos que desfilavam, aldrajados, todos os povos que estes submeteram, com as armas deitadas aos seus pés. Lembremos que foi Augusto, trás umha guerra de mais dumha década, quem submete a Gallaecia; campanha militar que acadou categoria mítica através do episódio -convertido em lenda- do Monte Medúlio, que debulhávamos recentemente neste portal.

Análise comparativa.
E desde que em foros como o tarraconense as equipas de arqueologia tenhem descoberto monumentos como os mentados, nom foi difícil estabelecer paralelismos com representaçons semelhantes. Eis a interpretaçom do arco de Carpentras, na Provenza. Nele figuram representaçons dos povos submetidos nas extremas do Império: um egípcio ao sul, um germánico ao norte, um frígio ao leste. Que personagem aparece no oeste? Um guerreiro com falcata que nom pode ser íbero, como indicam as suas vestimentas. Os seus riscos coincidem -segundo analisou de novo Arbulo- com a representaçom dos kallaikói em mapas simbólicos do Império da época augusta.

Coincidindo com o que tem assinalado a historiografia nacional desde os tempos de Murguia, e apesar das acusaçons de exagero e mitificaçom, o galaico era um povo reconhecido como tal polo Império, que lhe atribuía traços étnicos de seu para fazê-lo reconhecível polo público.

Deste modo, às imagens que já conhecíamos dos galaicos elaboradas por eles mesmos, representando figuras da aristocracia militar em monumentos funerários, soma-se a recriaçom que Roma fijo deles: mostrando-os cativos e desarmados para maior glória do Império, que investiu dezasseis anos em ocupar estas montanhas.