Por Ronan Burtenshaw-Jacobine Review (traduçom do galizalivre) /
No passado ano, ánti-fascistas da Polónia comemorárom a achega do seu país às Brigadas Internacionais no oitenta aniversário da guerra civil espanhola. A sua juntança foi boicotada, e um bote de fumo guindado pola porta do local; inscrito no projéctil, a frase: “Ha pasado”, a que retrucou Franco à consigna de Dolores Ibárruri “No pasarán”, mesmo quando a República caiu.
Umha outra frase icónica associada com a guerra civil tem a ver também com a influência polonesa. “A las Barricadas”, o hino da CNT, chegou a ser a cançom mais conhecida do conflito -mas nom era exactamente original. A melodia fora escrita por Józef Pławiński e a letra por Wacław Święcicki, ambos os dous músicos socialistas poloneses. A sua “Warszawianka” tinha sido o hino da revoluçom polonesa de 1905, quando as milícias obreiras tentárom derrocar o governo imperial da Rússia.
Hoje, a história progressista está posta em causa, e nom só na Polónia, senom no conjunto da Europa do Leste. Desde os começos da chamada ‘descomunizaçom’, o revisionismo centrou-se na era soviética e também na história prévia, republicana e socialista. Nos anos 90, quando o governo húngaro encetou a demoliçom das estátuas socialistas, decidiu armazená-las todas elas numha praça: nascera o Parque da Lembrança de Budapest, e o arquitecto que ganhou a competiçom para o desenhar, Ákos Eleőd, esclareceu as suas intençons: “é um parque sobre ditaduras”, dixo ele.
Porém, para se tratar dum parque sobre ditaduras, tinha umha estrutura curiosa: acarom dos monumentos a políticos da jeira comunista -e a Marx, Engels e Lenine- situavam-se os militantes esquerdistas de geraçons anteriores. Lá há comemoraçons de figuras da efémera República Soviética da Hungria de 1919, como Tibor Szamuely ou Jenő Landler, e também de Ede Chlepkó e Béla Kun, que foram executados nas purgas de Estaline. Róbert Kreutz e Endre Ságvári, assassinados polos nazis e polo governo fascista húngaro durante a Segunda Grande Guerra também tenhem estátuas. Estas estám à beira das de Miklós Steinmetz e I.A. Ostapenko, capitáns do exército vermelho que finárom ao libertarem Budapest da ocupaçom alemá; e, obviamente, há um memorial adicado à brigada internacional húngara que combateu na Espanha.
Malfadadamente, nom abraia que iniciativas que almejam a crítica às ditaduras estám, em troca, a demonizar aqueles que luitaram contra o fascismo. A descomunizaçom chegou a ser umha ferramente para movimentos nacionalistas ressurgentes, a re-habilitarem o seu próprio expediente -amiúde relacionado com o colaboracionismo com os nazis.
Em 2015, na cima dumha vaga de sentimento nacionalista que seguiu ao conflito no leste, a Ucraína encetou um intensivo processo de descomunizaçom. Desde aquela, milheiros de ruas e centos de vilas tenhem sido renomeadas; estátuas de Lenine deitadas ao chao em cada recanto do país, e partidos políticos considerados afins ao passado comunista, foram ilegalizados -incluído o Partido Comunista da Ucraína, que recebe milhons de votos.
A legislaçom votada polo parlamento da Ucraína nom se focou apenas no comunismo; o seu texto prometeu combater a celebraçom de “regimes totalitários, quer o nazi, quer o soviético”. Mas em 2015, quando estas medidas passárom, o governo da Ucraína estava de facto a institucionalizar as milícias fascistas no interior das suas forças armadas. Nesse Verao, o Batalhom Azov, fundado por membros da Assembleia Nacional-Social (de ideologia nazi) foi ascendida oficialmente para o regimento de operaçons especiais do exército da Ucraína. Os seus membros celebrárom-no com fotos onde amossavam as suas tatuagens da SS, símbolos que alegadamente o governo proibira.
A institucionalizaçom do fascismo nom se reduz às forças armadas. A extrema direita do país ganha prominência também na história oficial, como parte dum processo revisionista alentado polo Estado, e desenhado para venerar o nacionalismo ucraniano. A figura mais senlheira das recuperadas é Stepan Bandera, o líder nacionalista que colaborou com os nazis na Segunda Grande Guerra, e cujo exército insurgente ucraíno participou do Holocausto.
Mas Bandera nom é, nem de longe, a única figura a ser reciclada. Em Outubro de 2017, a cidade ucraína de Vinnitsa inaugurou umha estátua a Symon Petliura, que liderou umha sublevaçom anti-comunista contra os bolcheviques. Baixo o seu reinado, cinco mil judeus fôrom executados em pogromos na República Popular da Ucraína. E este nom é um passado que a cidade agoche: as autoridades locais decidírom recentemente situar a sua estátua no bairro judeu, à carreirinha dum cam de umha das poucas sinagogas ainda em pé.
Em muitos outros lugares, a descomunizaçom tem sido um encobridor para os ataques contra os judeus do leste da Europa. O governo lituano, devotado a construir umha narrativa nacionalista que justificar a colaboraçom com os nazis, tem acusado os partisanos judeus de crimes de guerra. Um monumento em homenagem à sua luita, que umha vez se erguia no centro da cidade, foi oculto em um outro “parque das ditaduras”. Hoje a sua placa adverte que os partisanos que luitaram contra o nazis -num país onde quase dous mil morreram no Holocausto- eram “maiormente judeus”. Os lituanos, diz-se, “nom apoiárom o comunismo”.
O recordo da Uniom Soviética era sombrio na Europa do leste: as deportaçons de populaçons, a repressom e as colectivizaçons forçosas contribuiram para este ressentimento persistente. Mas o propósito de descomunizaçom tem pouco a ver com a construçom dumha sociedade mais democrática. Trata-se, no seu cerne, dum projecto desenhado para reescrever a história, perdoar o fascismo e condenar aqueles que o combateram.