Por Yara Hawari (traduçom do galizalivre) /
A neve veu cedo a muitos países da Europa occidental neste ano, onde muitos esperam que se mantiver até o Natal. A gente deseja um branco natal, o momento onde muitas famílias se reúnem ao acobilho da tradiçom cristá do nascimento de Cristo.
Mas na Terra Santa, um branco Natal de outro tipo está a ser imposto ao povo palestiniano. Durante décadas e até o dia de hoje, os céus da Palestina estám a se cobrir com o gás lacrimogêneo tóxico que as autoridades israelis utilizam para consumar a ocupaçom.
Na realidade, numha palestra mantida recentemente na London School of Economics, o comissionado polos direitos humanos da ONU, Pierre Krahenbul, citou umha reportagem a piques de ser publicada, na que expertos médicos advertem que os e as refugiadas do campo de Aida, em Bethlehem, som a comunidade mais exposta a gases tóxicos no mundo.
Aida é justamente o lugar onde um comandante israeli foi filmado a berrar a seguinte mensagem dos altofalantes do seu jeep: “Habitantes do campo de refugiados de Aida, somos as forças de ocupaçom. Vós guindades pedras, e nós bateremos-vos com gás até matar-vos. As crianças, os moços, os idosos- ides morrer todos. Nom havemos deixar nenhum com vida.”
Com os e as palestinianas a resistirem a decisom da administraçom Trump de mover a embaixada norteamericana a Jerusalém Leste, os céus palestinianos, mais umha vez, virárom brancos com estas nuvens familiares e com correntes de gás. Desde que o presidente Donald Trump anunciou o plano para mover a embaixada, a Lua Vermelha Palestiniana tem registado 2505 feridos e feridas por gás lacrimgêneo, todas elas assistidas por primeiros auxílios.
O gás lacrimogêneo é umha arma química que pode causar dor por um tempo, e as autoridades que o permitem argumentam que é efectivo contra a desobediência civil. Ainda, esta arma química pode ter consequências, nomeadamente em espaços fechados. Os efeitos no longo prazo da exposiçom constante a este gás ainda nom foi bem pesquisada, mas suspeita-se que pode acarrejar abortos, nascimentos de crianças mortas e sérias doenças respiratórias.
O povo palestiniano conhece bem este gás. Tam bem, que quando as forças policiais norteamericanas o utilizárom contra as mobilizaçons de “Black Lives Matter” em Ferguson, Missouri, em 2014, os palestinianos chiárom conselhos nas redes sociais para se a gente conhecer a melhor maneira de evitar a sua inalaçom. Mesmo agora que eu escrevo, o meu nariz prói com a memória de tal cheiro: enche o teu corpo inteiro, esgana-te, queima-che os olhos, até o ponto que sentes que nem podes respirar. É o único que por vezes, e literalmente, fai com que deixes de fazê-lo.
Em 2015, Hashem Al Azzeh, um activista de 54 anos muito conhecido em Hebrom, morreu trás inalar excessivo gás lacrimogéneo. Ele procurou chegar ao hospital por fortes dores no peito, mas soldados israelis que se enfrentavam a manifestantes empecêrom-no de se mover. Ele aginha deixou de respirar.
Noutro ponto da Palestina, na vila de Bil’in, donde os habitantes estivérom a organizar manifestaçons semanais durante os últimos doze anos contra o muro de separaçom, o gás lacrimogêneo deixou outro legado mortal. Em 2009, o activista local Baseem Abu Rahmah foi assassinado numha manifestaçom pacífica quando um soldado lhe disparou ao peito um cartucho no peito. Três anos depois, a irmá de Baseem, Jawaher foi assassinada numha manifestaçom trás inalar umha alta concentraçom de gás. Em ambas as duas ocasions, os cartuchos de gás foram fabricados nos Estados Unidos.
A Palestina tem servido como um autêntico laboratório para exportadores e importadores de armas de todo tipo. De feito, Israel tem chegado a ser um dos mais importantes exportadores de armas do mundo -e mesmo vende a tecnologia como “provada em combate”. Gaza é melhor exemplo da comprovaçom israeli das armas mais devastadoras.
No assalto a Gaza em 2008-2009, Israel utilizou umha e outra vez fósforo branco em áreas densamente povoadas. Human Rights Watch denunciou que tal estratégia era unlawful, e descreveu-no como “chuva de lume”, dado o seus efeitos calcinantes na pele.
Hoje, com os palestinianos e palestinianas ainda a tomarem as ruas para exigirem os seus direitos fundamentais, elas continuam a enfrentar gás e balas reais, provando mais umha vez que a ocupaçom e a colonizaçom das suas terras nom se detém para ninguém; tampouco no Natal.
*Publicado originariamente em Middle East Eye.