Por Marcos Abalde Covelo /

Emocionado, o presidente da Generalitat abraçou Castelao. Desta maneira a Catalunha reconhecia o compromisso da Galiza com a liberdade dos povos. Poucas semanas antes o Partido Galeguista votara a favor do Estatuto da Catalunha nas Cortes Constituintes. Este mínimo democrático despertou os ódios do espanholismo, especialmente de El Imparcial. Para o jornal madrileno, as palavras desse “lúgubre dibujante”, “pobre hombre sin luz y sin vida”, provocavam “verguenza y risa, indignación y asco”, pois a Galiza era “profundamente, sentidamente, amorosamente española”.

No entanto, a Catalunha realizará o tributo que lhe corresponde aos deputados nacionalistas. Esta homenagem será amplamente recolhida pola imprensa catalá. Nosaltres sols, vozeiro do independentista Estat Catalá, reproduze dous autógrafos dos patriotas galegos. O de Otero di assim:

Pola minha cativa pessoa e polo grande Castelao, símbolo da imorrente graça e essência da Nossa Terra, a Galiza está hoje representada na Catalunha. Por nós umha naçom véu saudar outra naçom, esta Catalunha milheiros de anos mais adiantada no caminho da sua redençom. A Galiza mira-se no espelho da Catalunha e já depressa podemos cuidar que a Nossa Terra, em preciosas liçons, pola obra das novas geraçons, chegue a aquele grau de identificaçom com o seu espírito que a capacite para a grande confederaçom de futuro.

Aquela quarta-feira, 20 de julho de 1932, às 9.15, Castelao chegava de comboio a Barcelona acompanhado de Otero Pedrayo como hóspedes de honra da Generalitat. Com umha fervorosa ovaçom forom recebidos na estaçom de Grácia por numerosas representaçons de partidos e entidades catalás. A comitiva oficial visitou o palácio da Generalitat onde aguardava Francesc Macià. Ao meio-dia, num banquete oferecido aos dirigentes galegos, o presidente da Generalitat dá um discurso agradecendo a solidariedade da Galiza:

Dizei aos galegos que a Catalunha confia conseguir os seus direitos e a sua liberdade, que tem a certeza de que nom poderám ser-lhe negadas, porque chegou já a umha fusom tal de espíritos, a umha unidade de coraçons, que é invencível. Dizei-lhes que quando conquistemos a nossa meta, iremos a Galiza a ajudar na luita que vem sustendo.

À noite no Centre Autonomista de Dependents del Comerç i de la Indústria da rambla de Santa Mónica realizam o ato central. Está ateigado de gente. Naquele prédio já fora assinado o primeiro pacto Galeusca em 1923. Tomam a palavra Rovira i Virgili, Manspons, Dañobeitia, Luís Soares e Otero Pedrayo. Clausura o meeting Castelao reivindicando Galiza como célula de universalidade:

Nós nom toparemos com as fronteiras. Se as aves nom topam com as montanhas, como vam achar obstáculos os nossos elevados ideais? Prefiro ser escravo da natureza que se-lo das leis dos homens. Chamam-nos separatistas e os separatistas som eles. Separatistas forom com Portugal os centralistas, patrioteiros de todos os desastres sofridos. É preciso que nos deixem viver a nossa vida. Porque somos diferentes e queremos ser existentes.

Surpreendia a extraordinária atençom dum auditório que por primeira vez sentia o nosso idioma. Nom houvo melhor homenagem que esse desejo de entender.