Por José Manuel Lopes Gomes /

Com grande parte da populaçom galega a viver já de costas ao mundo rural, e com as novas geraçons totalmente desligadas da natureza, nom é raro pensar-se na seca como um problema ‘dos gadeiros’ e das labregas que olham cada dia para o céu preocupadas com o rendimento da colheita. A fondura da colapso, porém, vai permitir cada vez menor indiferença. Como vimos relatando ao longo das últimas semanas neste portal, a crise ambiental incuba umha crise social da que apenas vemos os primórdios. Por enquanto, o aumento do preço de alguns produtos básicos multiplicou por quatro a inflaçom interanual.

Bágoas de crocodilo nas transnacionais da energia.
Transcendeu recentemente a queixa das grandes companhias elétricas pola ‘descida de lucros’ que padeciam, de certeza umha estratégia de mercado para mentalizarem a populaçom dos preços em alça da tarifa da luz. A imprensa comercial nom salientava o paradoxo de serem precisamente as térmicas instaladas na Galiza as responsáveis do 60% dos gases de efeito estufa que mediterraneizam a nossa terra. A lavagem da cara da ‘energia verde’ oculta que, além da promoçom eólica que colonizou as nossas serras, as grandes companhias nom procuram substituir a produçom poluinte. O ‘verde’ é apenas um suplemento secundário ao grosso da energia derivada dos combustíveis fósseis.

‘Consumidores’ em alerta.
Mas quiçá existe um indicativo que desacouga mais o cidadao consumidor do que as tarifas da luz, nomeadamente num contexto climático no que -até o momento- nom vivemos vagas de frio cruas e mortal. Referimo-nos à saca da compra, sobre a que onte mesmo chamou a atençom um representante da Uniom de Consumidores da Galiza. Em conversa com a imprensa do regime, Miguel López chamou a preparar-se para ‘momentos difíceis’.

Seguindo a linha de outras economias ditas avançadas, onde a comida pré-cozinhada de grande poder calórico e nulo valor alimentar está ao alcanço das capas mais humildes (causando graves problemas de saúde), na Galiza começamos a observar um progressivo encarecimento das ‘froitas, verduras e legumes’, que devessem ser base de muitas economias locais. A seca está por trás deste aumento.

Num nível de necessidades secundárias, também a carne e os produtos derivados do leite estám a subir de preço; a reduçom da superfície de prado e o acréscimo de gastos da gadaria chega ao cesto da pessoa compradora.

Pagam as humildes.
Segundo índices de consumo recentes, a queda em aquisiçom de froitas e verduras continua a descer notavelmente; tal índice piora em famílias trabalhadoras ou socialmente excluídas, que precisam de poupar até o derradeiro cêntimo para comporem as suas economias domésticas.

Do negacionismo à banalizaçom.
Deslocados os vozeiros do negacionismo da mudança climática e as convulsons que esta conleva, umha nova estratégia tem tomado corpo na imprensa do poder. Já que o problema é tam evidente e as suas manifestaçons tam vertiginosas, tenta-se tirar ferro ao que de certo é o maior repto da nossa espécie por séculos a fio. Os ‘benefícios do turismo’ na Galiza baixo o sol, a felicidade do setor hostaleiro, ou a piada macabra de ‘Galifornia’ (que equipara o nosso país a esse Estado norteamericano de clima solheiro) ocupam os manchetes da imprensa. Em nengures se menciona que o problema que abordamos é irresolúvel dentro deste sistema voraz e niilista chamado capitalismo.