Por Jorge Paços /
Advertem os meteorólogos que a mudança das correntes marinhas, ligada com o aquecimento global, tem situado o anticiclom das Azores numha situaçom anómala, e parece que de maneira quase permanente. A Galiza está a viver já em coordenadas de clima mediterráneo e, pola primeira vez em toda a sua história, debate como administrar a auga em pleno mês de Novembro.
O colapso está às portas, e isto já nom é umha legenda sensacionalista da esquerda revolucionária. Nesta mesma semana, mais dum milhar de cientistas volvêrom a clamar no deserto para pedir um golpe de leme no produtivismo capitalista que leva a vida humana para um beco sem saída em geraçons vindouras. Os e as especialistas reeditavam as ideias força dum manifesto de 1992, e que fora massivamente ignorado. Enquanto o tempo se esgota, a Galiza enfrenta a sua particular versom do esfarelamento ambiental com sérios problemas de fornecimento de auga.
Queimar recursos, ganhar dinheiro.
Colheita de castanhas à mingua, gadeiros sem prados na montanha ourensana, ausência de setas e cogomelos, aumento das doenças respiratórias por sequedade ambiental, lumes com umha extensom quase apocalíptica. A gente do comum começamos a conhecer as consequências da profecia do ‘progresso’ e o seu conto de produçom e abundáncia sem fim.
Porém, agora os capitalistas semelham pôr o seu grau de areia no debate. Em dias passados transcendia a ‘preocupaçom’ das elétricas pola seca, que vem diminuir os seus lucros pola pouca auga armazenada nas barragens. As grandes corporaçons energéticas argalham assim umha suba de preços ao consumidor, enquanto dissimulam cuidadosamente a sua contribuiçom decisiva ao efeito estufa através das centrais térmicas.
Rias Baixas no gume da navalha.
A mudança climática atinge desigualmente por territórios, e ao que parece toda a zona do sul galego vai ver danos extremados; fora da influência lenitiva das borrascas do norte que ainda atingem a Marinha, Ortegal, ou o Eume, o clima ‘africano’ começará a penetrar polo Minho, como a nossa vizinhança portuguesa está a perceber duns anos para aqui.
Com o Leres em níveis mínimos jamais registados, a alcaldia de Ponte Vedra chamou à ‘tranquilidade’ e a um uso responsável dos recursos, enquanto pediu levar em conta a necessidade de poupança. Por seu turno, Augas da Galiza já convocou umha juntança com todos os concelhos afetados pola seca para coordenar as medidas necessárias.
Ence a depredar.
Raimundo González, vozeiro do concelho pontevedrês, assinalou o destacado papel de Ence na seca da comarca, pois a fatoria papeleira consome por si só ‘o duplo de auga que todos os concelhos da contorna juntos’.
Enquanto recursos gratuítos e que considerávamos garantidos começam a escassear, o seu acaparamento industrial tende a intensificar-se, antecipando tempos de luita descarnada polos bens da terra. De nom se invertirem as tornas, os e as pobres em dinheiro vam ser também no futuro as pobres em recursos naturais.