Por Maria Álvares Rei /
As crónicas jornalísticas de todo o aparelho de propaganda espanhol seguem obsessivamente cada movimento das dirigências da República catalá na procura de vacilaçons e fraquezas. Desde que concebem a política como umha atividade de profissionais bem remunerados, esquecem pôr a sua atençom onde quiçá aconteçam as cousas mais transcendentais: no movimento popular. E na Catalunha está-se a alargar um movimento de base -os Comités em Defesa da República- que vam ter muito a dizer nos vindouros meses.
Em poucos dias, passárom dum cento a ser já 172. Nasceram para garantir a celebraçom do referendo contra a violência espanhola, mas rebaptizárom-se como ‘Comités em Defesa da República’ e vinhérom para ficar. O seu senso é defender o novo Estado ‘de jeito pacífico mas contundente’, e fam-no organizando-se em assembleias de base com capacidade decisória. Os e as suas vozeiras rotam periodicamente, e coordenam-se numha assembleia nacional. Ainda que partem de núcleos militantes da esquerda independentista, atingem um abano amplíssimo de pessoas e geraçons.
A Catalunha está a demonstrar umha capacidade de mobilizaçom permanente que abraia na Europa ocidental, onde a participaçom popular, embora massiva, funciona por espasmos e entra facilmente em ciclos maníaco-depressivos que fam os movimentos presa fácil da política profissional. Anos de presença constante na rua no Principado, frutifica agora nesta estrutura permanente.
Greve fracassada?
Só levando em conta o papel dos CDR pode valorizar-se o sucesso da passada greve geral catalá. Pois embora os meios espanhóis vincárom umha vez e outra na ideia de fracasso, a realidade é mais rica e matizada. A cumplicidade com o Estado das grandes burocracias sindicais espanholas freou a extensom do paro a importantes centros industriais, mas os CDR lançárom umha estratégia nova com grandes efeitos: o bloqueio das comunicaçons. Num modelo económico baseado na circulaçom de mercadorias, e onde umha massa enorme de pessoas assalariadas nom tenhem centro de trabalho fixo nem profissom permanente, o colapso de fronteiras e transportes tem enorme capacidade de incidência. Estaçons importantes como a de Girona ou Sants fôrom paralisadas na passada greve.
Como a imprensa do regime confessou, ‘o movimento tenta demonstrar que para colapsar a circulaçom dum território de 32000 kilómetros quadrados (…) nom som precisas grandes mobilizaçons, abonda com movimentar várias dúzias de pessoas em pontos chave’. Cumpre dizer, porém, que as dúzias som milhares. Por isso os meios mais reaccionários falam com desprezo destes novos ‘soviets’ cataláns.