Por Josué Sánchez Jiménez (traduçom do galizalivre) /
Há dezassete anos, bell hooks escrevia ‘Feminist is for Everybody: Passionate Politics‘. Agora, Traficantes de Sueños tira do prelo a traduçom em castelhano, ‘El feminismo es para todo el mundo‘, umha obra que aborda a interseccionalidade de género, raça e classe, tratando de assinalar quem é o sujeito do feminismo.
Nom é por acaso que desde idade temperá, a escritora e ativista feminista preta, Gloria Jean Watkins (1952) tivera férreas conviçons anti-sexistas, anti-racistas e anti-classistas. Nasceu e medrou em Hopkinsville, umha pequena vila da mancomunidade de Kentucky (Estados Unidos) que, como muitas outras, estava segregada por raças e mergulhada numha voraz desigualdade económica, social e cultural. Além disso, a infáncia de Watkins estivo marcada pola violência parental: o seu pai, para ela, era umha representaçom do patriarcado e foi marcante para a sua adesom ao feminismo; é óbvio que viver todo aquilo nas suas próprias carnes ajudou a virar a miséria em força e resistência. Contodo, tampouco nom foi acaso que a rejeiçom à injustiça se mesturara com a escrita: o primeiro acobilho que topou para fugir dessa opressom omnipresente foi na redaçom e recitaçom de poesia. Logo, umha cousa levou a outra e as suas achegas teóricas chegárom aginha: com apenas dezanove anos, namentres cursava bacharelato em Stanford, começou a escrever a sua primeira obra -‘Ain’t I a Woman? Black Women and Feminism‘ (1981)- e desde aquela patenteou-se o seu esforço por evidenciar um sistema de dominaço dentro do próprio movimento feminista que, encabeçado por mulheres brancas de classe média, nada fazia por integrar pretas e pobres.
A inesgotável escritora, em troca, começou a propor diversas vias para gerar a solidariedade política entre raças, classes e géneros. Trás o primeiro livro, vinhérom outros 32, e todos assinados baixo o sobrenome bem hooks: umha combinaçom de nomes e apelidos da sua mai e da sua avoa escritos em minúscula, segundo ela, porque maiúsculas só devem de ser as ideias, criticando assim o costume capitalista de sobrevalorarem-se os nomes póprios.
Umhas dessas ‘ideias maiúsculas’ aparece em ‘Feminism is for Everybody: Passionate Politics’, livro que hooks publicou no ano 2000 e que agora lança Traficantes de Sueños. Umha obra que, na mesma linha de outras da autora, analisa e critica a intersecionalidade de género, raça e classe, determinando, neste caso, quem é o sujeito do feminismo: todo o mundo.
‘O feminismo é um movimento para rematarmos com o sexismo, a exploraçom sexista e a opressom’.-bell hooks.
Com esta singela definiçom, bell hooks abre a obra e propom pôr o alvo sobre o principal inimigo do feminismo que, segundo ela, nom é o varom, mas o sexismo. ‘o problema é o conjunto do pensamento e açom sexista, independentemente de perpeturarem-no mulheres ou homens, nenos ou adultos’, resolve. Portanto deixa claro desde o início que, namentres um homem que renuncia aos seus privilégios vira um ‘valioso companheiro de luita’, umha mulher que reproduz o sexismo é ‘umha perigosa ameaça’.
‘Quando o movimento feminista contemporáneo começou a andar, havia umha feroz facçom de anti-homens. Muitas mulhetres heterossexuais chegárom ao movimento de relaçons nas que os homens eram crueis, desagradáveis, violentos e infieis (…) e utilizárom a sua raiva como catalizador para a libertaçom das mulheres’ –bell hooks.
Nom apenas os varons entram nesse feminismo ‘para todo o mundo’; hooks também apela à interrelaçom entre o sexismo, a raça e a classe. No primeiro lugar, critica o feminismo branco que nom se comprometeu com a luita anti-racista que invisibilizou as relaçons entre racismo e sexismo que desvelaram as ‘visionárias’ -assim chama as feministas pretas- e, ainda que admite que com posterioridade as mulheres brancas incorporárom à raça algumhas análises feministas, pom em causa que isto se transladara da teoria à prática. Por isto, encoraja para começar: ‘as mulheres brancas e as de cor que temos superado as dificuldades e criamos espaços onde puideram xurdir vencelhos de amor e solidariedade política, devemos partilhar os métodos e as estratégias que utilizamos com sucesso’.
Em segundo lugar, salienta a variável de classe: relata que, desde os inícios do movimento, ‘as mulheres das classes privilegiadas conseguírom que as suas inquedanças foram ‘as’ questons nas que havia que centrar-se’, em grande parte porque eram sujeitas de interesse para os meios de comunicaçom-, namentres que ‘as mais relevantes para as mulheres trabalhadoras e dos setores populares endejamais foram ressaltadas’.
‘Quando as mulheres de classes altas utilizam de maneira oportunista a plataforma feminista namentres ajudam a manter o mesmo sistema patriarcal que em última instáncia volverá a subordiná-las, enfraquecem as políticas feministas e nom só atraiçoam o feminismo, senom que se atraiçoam também a si mesmas’. -bell hooks.
É por isso que exorta a retomar esse debate dentro do feminismo: no seu momento, este ‘abriu um espaço para as intersecionalidades sairem à luz’, e fai-se preciso reabri-lo ‘para se acadar um mundo onde se partilharem os recursos e abondarem as oportunidades de crescimento pessoal para todo mundo, independentemente da sua classe.’
Plenitude total.
Bell hooks qualifica a relaçom entre o lesbianismo e o feminismo como de ‘plenitude total’, reconhecendo o labor que levárom -e levam- a cabo as lesbianas e as bissexuais radicais no movimento da libertaçom das mulheres. Fai-no por duas razons fulcrais: por um lado, porque demonstrárom que a necessidade de depender dos homens era umha miragem e, por outro, porque fôrom a vanguarda em sulinharem a importáncia de se incluir a interseccionalidade nos debates.
‘Sem a contribuiçom do lesbianismo radical, a teoria e a prática feministas nunca ousaram superar os limites do heterossexismo para criarem espaços nos que (…) as mulheres, independentemente da sua identidade ou preferência sexual (…) puiderem ser tam livres como quigerem. Este legado deve de ser reconhecido e celebrado atreu’. –bell hooks.
Para exercer essa vocaçom, segundo ela, é imprescindível o feminismo luitar contra a homofobia e a lesbofobia, porque, afirma, endejamais poderá existir a sororidade entre as mulheres feministas ‘se as heterossexuais faltam ao respeito e subordinam as lesbianas’.
‘Visionária’
Quando bell hooks escreveu ‘O feminismo é para todo o mundo’, viu que o movimento estava em bo estado e mais vivo do que nunca; porém, também detetou a necessidade dumha contínua renovaçom. ‘Deve-se criar e re-criar arreo teoria feminista com visom de futuro, que se refira a nós, aonde vivemos, ao nosso presente, para garantir que se mantenha a importáncia do movimento feminista nas nossas vidas.’ A ativista escreveu que, apesar dos grandes avanços que as mulheres e os homens fixeram de cara a igualdade de género, nom podiam ficar estancados, senom que deviam seguir para a frente, sem repouso. ‘Devemos ter afouteza para aprendermos do passado e trabalharmos por um futuro no que os princípios feministas podam reger em todos os ámbitos públicos e privados das nossas vidas’. Sem dúvida, esse apontamento que deixou no ar ao início do século nom caducou e segue a ostentar significaçom: o passado sempre é umha ferramenta útil para um futuro perene. E é que a traduçom ao castelhano de ‘Feminism is for Everybody…’ nom chega às livrarias para lembrar o que se passava ou o que cumpria no movimento feminista do século XX nos Estados Unidos; desgraçadamente -ou felizmente-, continua a revelar cousas que se passam e cumprem a dia de hoje em toda parte. 19 capítulos em só 150 páginas, sobre ensino, sororidade, direitos reprodutivos, beleza, luitas de classes, racismo, amor sexo, espiritualidade, etc. com a pretensom de assinalar a posiçom de cada quem no respeitante à classe, raça e sexo para, depois, convidá-lo a somar-se ao feminismo: a todo o mundo.
‘A política feminista pretende rematar com a dominaçom para podermos ser livres, para sermos quem somos, para viver vidas nas que abracemos a justiça, nas que podamos viver em paz.’ –bell hooks.
*Publicado originalmente em pikaramagazine.