Estudos científicos de há umha década advertiam já da provabilidade de lumes catastróficos na Galiza
Por José Manuel Lopes /
Há dez anos, a expressom ‘mudança climática’ ocupava cabeçalhos nas publicaçons dos movimentos populares, mas raramente se topava nas capas dos jornais da imprensa comercial. Umha forma de negacionismo suave que consiste em deixar os problemas na sombra antes de estes virarem incontroláveis. Hoje, com a seca em todas as conversas, sabemos que cientistas elaboraram para a Junta informes que prediziam já há anos futuros ambientalmente catastróficos.
O futuro é agora.
Fora já prognosticado num documento intitulado ‘Avaliaçom de evidências da mudança climática mediante indicadores de risco de incêndios’; data de 2008, realizara-se por encomenda da Conselharia de Meio Ambiente, e concluía que a Galiza nom demoraria em se enfrentar a lumes mais virulentos, mais dificilmente controláveis, e ameaçantes durante grande parte do ano. As comarcas do suroeste do País, junto com as do val do Minho, iam ser as mais ameaçadas.Do mesmo modo que antes dominava um determinado tipo de incêndio, mais suscetível de ser controlado polas brigadas, ou revertido pola acçom do tempo meteorológico, doravante a Galiza enfrenta um novo calendário de lumes: ‘estes podem dar-se em qualquer estaçom’, afirma um cientista experto em mudança climática.
Medidas nulas e quase dez anos de inacçom.
Expertos tenhem proposto nos seus textos medidas elementais assumíveis por pessoas de qualquer ideologia: recuperaçom da gadaria extensiva, limpeza de montes, repovoamento do rural, plantaçom de espécies autóctones. A extrema direita empoleirada na Junta tem actuado no sentido inverso, pulando por um produtivismo florestal que, sem lugar a exagero, pode qualificar-se de suicida: a Galiza convertida num imenso polvorim na que até mesmo vidas humanas e bens correm perigo.
Que nos espera?
Fora das convincentes vozes de alarma dadas polo movimento ecologista, as forças independentistas e outros movimentos populares, umha preocupante passividade continua a dominar a sociedade. O fenómeno que vivimos há pouco mais dumha semana pode ser a primeira manifestaçom de vagas catastróficas que porám a prova a nossa capacidade de resistência como povo. Longe de pessimismos desaforados, os dados científicos -e até o momento nom rebatidos- apontam a tendência ao pioramento dos riscos.
Recentemente, a vozeira de AEMET, Ana Casals revelava que ‘os últimos anos som mais cálidos desde que há registos, e cada ano piora o anterior’. Geógrafos da USC explicavam também nestes dias num informe que a capital da Galiza, historicamente associada à chuva, apresenta cada vez Veraos mais longos e Outonos mais secos e curtos. Desde 1950, os dias com temperaturas superiores a 25º multiplicárom-se por dous.
E ainda que a mudança climática nom explica por si só os lumes, multiplica o seu poder destrutivo se nom se tomarem medidas políticas contundentes e imediatas. Com o perigo a sentir-se na caluga, é de esperar que umha nova mentalidade popular desafie a rota para nengures dos governantes galego-espanhóis.