Por Júlio Teixeiro /
“Barcelona: Turismofobia ou empregofobia?”; “Novo ataque de turismofobia”; “A turismofobia chega a Balerares”…, nestas e noutras versons, o debate sobre o turismo ocupou boa parte dos principais manchetes da imprensa estival deste ano. Já se sabe que, a finalidade da prensa comercial, seja verão ou inverno, é -a partes iguais- influír e lucrar. Por isso, nom nos deve estranhar o abafante cheiro, a puro e genuíno sensacionalismo, que estes manchetes deitam (lucrar); e tampouco a inconfundível e habitual demagogia política, sempre presente nos meios de vocaçom empresarial (influir).
Independentemente de todo isto, o certo é que a questom do turismo mereceria um lugar central na agenda política do país. Na inteligência desta necessidade, justo é lembrar que o independentismo tem estudado, difundido e denunciado –desde começos do presente século- o papel que joga o turismo na sociedade galega. De facto, poderia-se dizer que o mesmo conceito de turistificaçom bota a andar na Galiza da mao do activismo arredista. Um activismo que, com a sua oposiçom descarnada ao turismo, ultrapassou os limites da crítica ambientalista tam legítima como, moitas vezes, inócua. Hai que reparar em que, naquela altura (antes da última grande recessom), o turismo foi o motor da saturaçom de infraestruturas que ainda sofremos, também dumha orgia urbanística sem precedentes e, em resumo, dumha apoteose escandalosa de agressons, de todo tipo, ao território.
Transcorrida mais dumha década desde aquelas intervençons seminais do independentismo, hoje cumpriria perguntarmo-nos se a situaçom, que as justificava, mudou. O primeiro que devemos levar em conta é o que supom, em termos quantitativos, este problema. Existe o preconceito, muito extendido, de que o turismo é algo marginal dentro do sistema produtivo deste país; de que é umha cousa da Espanha meridional e mediterrânica. Pois nom. A atividade turística, na Galiza, tem (segundo dados do cluster de turismo na Galiza) o mesmo peso que no estado espanhol: mais do 12% do PIB e umha porcentagem semelhante do emprego. Um dado que se limita ao turismo regular, ao que haveria que acrescentar o que é a, nada desprezável, economia turística irregular ou informal.
Som relevantes, ou nom estas cifras? Suponhem efeitos que devem ser considerados? A este respeito, e para ter clara umha resposta objectiva e que nos valha a todos, cingiremo-nos a dados oficiais e academicamente testados. Neste sentido, podemos destacar três claros exemplos: a sobrevenda de bilhetes para as Ilhas Atlânticas, a presom turística sobre certas zonas de Compostela, e os recursos judiciais a favor das plataformas digitais.
De que falamos quando nos referimos á sobrevenda de billetes por parte das navieiras que levam turistas às Ilhas Cies ou a Ons? Pois nada menos que dum 300% de passageiros sobre os limites estabelecidos. Qual é a causa dessa sobrevenda? Evidentemente, um sistema produtivo que gera, para visitar esses lugares, umha demanda tam exagerada quanto inopinada. Contudo, alguém pode aduzir que estamos a falar dum parque natural; dum espaço que nom atinge a maioria da populaçom que vive nas cidades. Além doutras óbvias consideraçons, eis umha possível resposta: Para qualquer que viva em Santiago é evidente que o fluxo turístico é cada vez maior; tem um impacto mui importante sobre o espaço público. Nom o dizemos nós: som palavras, textuais, dun membro qualificado dos Grupo de Análise Territorial da USC.
E, por último, que acontece com as novas plataformas digitais para gerir alugueres turísticos? Pois nom deve ser nada bom quando, o próprio governo de Feixoo, está tentando legislar em defesa do sector turístico regular galego. O mesmo fazem outros governos autonômicos do estado; mas, todos essas medidas legais, som sistematicamente objeto de recurso polo governo espanhol (Comissom Nacional dos Mercados e da Competencia) perante os tribunais, com resultados tam positivos para o recorrente como negativos para o governo da Junta.
Os governos -da Junta e do estado- insistem em nos oferecer o turismo como a pita dos ovos de ouro. Desde que as formas tradicionais de vida forom destruídas, pervertida a relaçom das comunidades co território, e promovido o despovoamento de jeito sustentado ao longo dos anos…. coloca-se o turismo, nom como opçom, mas como a única saída. Diante desta grosseira manipulaçom do sentido comum, a pergunta é clara: como vivíamos, as galegas e galegos, quando nom existia o turismo?
Porque, durante séculos, o turismo nom existiu. A gente viajava, mesmo percorria o mundo… mas nom havia umha indústria dedicada á exploraçom do tempo livre. Curiosa ideia da vida esta que se compom de tempo livre e, também portanto, de tempo cativo. Agora bem, nom devemos esquecer que, a cultura que herdamos, existiu viçosa sem necessidade nengumha de tempo livre. Certamente havia vidas desgraçadas, claro que as havia; mas a felicidade nom dependia de fazer, num ano onde a maioria do tempo transcorre cativo, umha excepçom duns poucos dias de tempo livre.