Por Jacobe Pintor Vigo /

Os estudos, os inquéritos, as sondagens, cada ano situam um bocado mais próximo a definitiva defunçom do galego. Arredor das cifras demoledoras, convoca-se e manifesta-se nos grandes meios de difusom, jornais, redes sociais, tv´s, toda a raiva acumulada num processo de genocídio linguístico cruel e atroz, mas em forma de lamentos e impotência perante o que parece um desígnio da história. E como se dum desígnio histórico se tratasse, vozes autorizadas desses meios demandam implementar as mesmas políticas normalizadoras para neutralizar a situaçom de agonia da nossa língua, sem perceber que as mesmas cifras que exprimem a agonia, certificam o fracasso das políticas de normalizaçom ensaiadas nas últimas décadas.

Existe pois, umha fenda cada vez mais profunda entre a situaçom de alarma e urgência que descrevem os números, e as estratégias de normalizaçom linguística pensadas para um contexto (umha sociedade maioritariamente galego-falante oprimida por umha minoria espanhol-falante instalada no poder), que descreve umha situaçom histórica, mas que hoje, nom coincide com a realidade dumha língua minorizada no nosso país. Esta fenda determina os limites dumha política que no plano defensivo se constrói entorno à reclamaçom e à demanda dos direitos da cidadania galego-falante aos poderes públicos, sem o respaldo dumha força social capaz de impor os seus interesses, como se a pervivência dum direito depende-se só do fato de ser justo. Esta estratégia condiciona a política de socializaçom da língua reduzindo-a ao exercício da sua promoçom e a dinamizaçom, dirigida a um povo que se transforma numha categoria abstrata de público passivo recetor destas políticas. Um exemplo bastante representativo desta realidade pode ajudar-nos a perceber melhor do quê estamos a falar: antes da mudança de governo da deputaçom de Lugo, a instituiçom organizou um intenso programa de atividades lúdicas e culturais em galego destinadas às crianças. Umha oportunidade que as famílias galego-falantes asfixiadas pola esmagadora pressom social do espanhol, temos de facilitar às nossas crianças o contato com a nossa língua. A minha filha aguarda entusiasmada a representaçom teatral dumha peça de Neira Vilas, como é habitual nas obras dirigidas ao público infantil, a representaçom demanda a participaçom do público, as réplicas som em espanhol, enquanto ficamos à espera do começo, os jogos das crianças desenvolvem-se em espanhol, as maes e os pais conversam e relacionam-se em espanhol, no final da peça as crianças retomam os jogos em espanhol, e as maes e pais combinam até a próxima em espanhol. Finalmente grandes aplausos e bom sucesso do espetáculo, mas a minha filha e eu sentimo-nos deslocados, estranhos, e sem ferramentas úteis para a defesa dos nossos interesses, nom podendo denunciar a deputaçom por excluir a nossa língua e cultura do programa de atividades. Este contexto fai depender a supervivência da língua da consciência individual de cada falante, da convicçom pessoal de que a sua atitude linguística é justa. Mas a convicçom individual conduz sempre ao fracasso se nom dispom dum espaço comum, dum lugar partilhado onde o direito se traduze na norma comum, é a iniciativa coletiva mais do que a consciência individual o que fai mudar as dinámicas linguísticas dumha sociedade.

Centros sociais e culturais, escolas comunitárias, famílias que combinam nos parque e nas praças para que as suas crianças brinquem num espaço linguístico normalizado… diversas iniciativas construídas a partir da base vam desenhando lentamente mas sem pausa, um novo horizonte na luita pola normalizaçom linguística, cuja possibilidade de supervivência passa pola construçom dumha comunidade linguística com consciência própria, e a imersom linguística como a ferramenta mais eficaz para reverter a atual situaçom minorizada. Na construçom destes espaços de encontro tecem-se os laços, as partilhas e a solidariedade coletiva, as cifras e os números dos inquéritos materializam-se entom numha comunidade real que exerce o seu direito e que retoma a iniciativa popular. Desenhar umha estratégia de imersom linguística é o novo reto para esta comunidade, a imersom linguística inverte os termos impostos num contexto de conflito linguístico e pressom social do espanhol. Os espaços onde o galego é a língua habitual de uso, onde a preservaçom e o cuidado da nossa língua atravessa cada umha das atividades que desenvolvem os coletivos, condicionam a escolha linguística das pessoas que partilham o espaço, nom sendo estranho que falantes habituais do espanhol mudem de língua e adquiram consciência linguística a partir da socializaçom nos espaços normalizados. Além disto, estes espaços servem para reforçar a qualidade linguística dum galego que condicionado pola sua situaçom marginal se expressa com desleixo e incorreçom, pois só assim é aceite socialmente, convém lembrar que o desprestígio e a diluiçom do galego no espanhol som as marcas mais evidentes do processo de subtituiçom linguística na Galiza.

Noutras latitudes e noutros contextos de conflito linguístico, a imersom linguística tem-se imposto como a estratégia mais efetiva para a normalizaçom das línguas minorizadas, e na Galiza, devagar, vai cobrando força um modelo próprio que fai depender a imersom linguística da mobilizaçom popular e coletiva, tanto como, a mobilizaçom popular e coletiva dependem da imersom linguística.